Verónica Faria
Verónica Faria
Falar do Jardim da Serra é falar de alma e coração, é falar das suas gentes, das paisagens soberbas e daquilo que me faz sentir.
Nasci em 1986, e apesar de muito pequena, ainda me recordo da estrada em terra, com muita poeira, local onde sempre gostei de brincar. Era palco de grandes diversões entre os mais pequenos. Não tínhamos telemóvel, nem outras tecnologias, mas tínhamos imaginação e qualquer coisa era motivo de brincadeira. Jogar às “escondidas”, aos “apanhados”, a “mãos à obra”, ao “avião”, saltar à corda, tudo era fascinante. Trepar as árvores; adormecer ao relento, sob o olhar atento das estrelas, era um privilégio que qualquer pessoa tinha. A felicidade pairava, sob o céu do Jardim da Serra.
Os pais deixavam-nos ir brincar para a rua, pois havia segurança, serenidade e paz. Muitas mães, nessa altura, dedicavam-se às tarefas domésticas e bordavam, enquanto os pais dedicavam-se à agricultura.
Lembro-me de ir lavar a roupa aos ribeiros, onde a água, cristalina e pura, corria entre pedras e poças. Só por volta do ano de 1996 é que me recordo de termos adquiro uma máquina de lavar roupa. Um luxo, na altura, que hoje parece banal. Pequenas conquistas, mas grandes no conforto.
Amendoeiras em flor? Não! Cerejeiras em flor, que despertam qualquer transeunte. Pasme-se mesmo, o cenário é pitoresco! É sentir o branco mais puro, a natureza no seu melhor! Um encanto, num recanto, no Jardim da Serra. Perca-se, em abril, e venha fazer-nos uma visita. Confira por si mesmo e sinta. O olhar confirma! O coração atesta! E imagine que depois deste cenário, onde a natureza cruza o mais puro dos sentidos, em junho as árvores ficam carregadinhas de cerejas! Quem não gostas de cerejas!?! Não há como não associar as cerejas ao Jardim da Serra.
Frequentei a Escola dos Murinhos, no Jardim da Serra, onde fiz o primeiro ciclo. Fiz o 2º ciclo na Telescola das Corticeiras. Aqui, lembro-me de vermos os documentários explicativos das aulas e depois seguíamos um livro. Tínhamos dois professores que, a qualquer momento, nos ajudavam, tiravam as dúvidas e estavam sempre ali, presentes. Com 12 anos de idade, ingressei na Escola dos 2º e 3º Ciclos do Estreito de Câmara de Lobos, passando a andar regularmente de autocarro. Viajar de autocarro sozinha, mais uma conquista! Algumas vezes, combinávamos entre colegas e íamos a pé para escola, desde o Jardim da Serra até ao Estreito, passando pelo Luzirão e descíamos a Ladeira do Foro, tão íngreme, que nos dava a perspetiva mais correta do que é a velocidade! Sem medos, com entusiamo.
Sou a mais nova de três irmãs e ir à cidade (Funchal) era, para cada uma de nós, uma aventura. Uma aventura, porque íamos à vez. As idas eram raras, mas quando íamos, era como se algo de transcendente acontecesse. Ficava maravilhada com a cidade, com o movimento, com a multidão… Mas, regressar ao Jardim da Serra trazia-me paz e sossego. Aquele sossego que nos faz querer sair, mas logo regressar!
O Jardim da Serra é, para mim, um porto seguro, é-o pela família e amigos que lá tenho. É-o, igualmente, pelas emoções que me desperta! Um cheiro, um som, um sítio, uma comida, uma pessoa… Jardim da Serra, a terra das emoções! Das boas, por sinal!