Susana Silva
Susana Silva
As charolas constituem uma tradição peculiar na freguesia do Arco da Calheta, por altura das festividades do Divino Espírito Santo. Primeiramente, as festas ocorreram na paróquia do Loreto, nos dias 9 e 10 de junho do presente ano, seguindo-se, na paróquia de São Brás, nos dias 7 e 8 de julho.
A charola é considerada, atualmente, Património Cultural Imaterial da Região Autónoma da Madeira, sendo uma espécie de ninho concebido por vimes, onde se agrupam vários produtos agrícolas em forma de bola, meticulosamente amarrados com palha de bananeira. Antigamente, eram carregadas às costas pelos agricultores, mas, agora, só as mais pequenas, com armação em vime ou madeira, é que vão, por esse meio, em romaria até à igreja. A banda filarmónica acompanha e anima os populares, bem como as saloias e os festeiros do Divino Espírito Santo. Mas, antes de tudo isso, as charolas possibilitam um convívio de familiares e de amigos em torno de uma tradição, característica, desta mesma freguesia. A “ceia” que antecipa o dia de entrega das charolas é, muitas vezes, composta por verduras que sobram das charolas, acompanhadas, claro está, pelo tradicional vinho com laranjada, que faz as delícias dos paroquianos.
As melhores batatas, as melhores “semilhas” e as melhores cenouras são reservadas para as charolas. No leilão dito das charolas, também são arrematados, na paróquia de São Brás, cântaros de flores, cachos de banana, caixas de verduras, entre outros.
O costume das charolas remonta aos primórdios do século passado, constituindo uma importante tradição desta localidade que ajuda a embelezar as festividades religiosas do Espírito Santo. Igualmente importante é o facto de a arrematação das charolas em exposição constituir uma forma de angariar fundos para apoiar diversas causas.
Saliente-se que as charolas no Arco da Calheta são feitas apenas na Festa do Espírito Santo e traduzem o agradecimento do povo pela abundância das colheitas, ao mesmo tempo que espelham uma certa competição entre os sítios, para ver qual deles apresenta a mais bonita e bem composta. Refira-se que algumas destas chegam a pesar entre os 400 e os 700kg, sendo para isso necessária a colaboração de dezenas de pessoas, no sentido de exporem esta arte no adro da igreja.
Para que a tradição perdure, nos próximos anos, será preciso motivar os mais novos a apreenderem este costume que tanto nos caracteriza.