Ricardo Faria
Ricardo Faria
Machico em tempos já foi considerado um dos principais polos turísticos da região. Chegou a ter na sua área territorial a famosa denominação de “Primeira cidade turística”! De facto nos anos 70 e 80 do século passado Machico era uma referência no que ao turismo da região dizia respeito.
O desmantelamento da Matur e do Hotel Atlantis nos anos 90 foi um retrocesso no setor do turismo ao nível do concelho. No entanto, ainda se mantiveram importantes infraestruturas turísticas, como o Hotel Dom Pedro Baía, que se encontra este ano a celebrar o seu quadragésimo sexto aniversário, ou o Enotel Golf Santo da Serra entre outros, assim como surgiu, mais recentemente, um novo empreendimento, num elevado investimento, a Quinta do Lorde.
Os indicadores, preliminares, sobre o turismo da região referentes ao ano 2017 foram publicados no passado dia 15 de março pela Direção Regional de Estatística da Madeira (DREM). Estes indicadores são muito importantes pois permitem conhecer a realidade da principal indústria da região.
Deste modo, irei abordar de uma forma global o concelho de Machico e não em particular a sua freguesia, dado os números se referirem ao seu todo.
Segundo os dados da DREM, Machico no final de 2017 apresentava dez estabelecimentos hoteleiros, sendo o terceiro concelho a nível regional com maior número de estabelecimentos, dispondo de 1.135 camas, neste caso o quarto maior concelho. Olhando para os indicadores verifica-se que a taxa de ocupação regional acumulada foi de 75,5 %. No concelho de Machico essa taxa situou-se nos 59,3 %, ou seja 16,2 % abaixo da média regional, ficando em sétimo lugar ao nível dos concelhos regionais. Importante torna-se também analisar o “RevPar”, o qual a nível regional fechou o ano nos 51,45 €, enquanto no concelho de Machico este indicador situou-se nos 30,75 €, ou seja 20,70 € abaixo da média regional.
Mas nem tudo são más notícias, a variação acumulada dos hóspedes entrados nas infraestruturas hoteleiras de Machico revela que existiu um aumento de 3,8 %. No entanto, esta variação ao nível regional teve um aumento de 5,2 %, isto é, Machico ficou novamente 1,4 % abaixo da média regional. Em onze concelhos, Machico situa-se no oitavo lugar, sendo o último dos que apresentam variação positiva. Ao nível das dormidas, este sim ficou 1,2 % acima da média regional tendo registado um aumento de 3,1 % na comparação de 2016 para 2017 enquanto a nível regional esse aumento foi de 1,9 %. Contudo a estada média em Machico situou-se nos 3,96 dias tendo a região uma média de 5,23 dias. Uma vez mais abaixo da média regional.
Outro indicador interessante incide particularmente nos mercados emissores. Enquanto a nível regional os três principais mercados em 2017 foram Reino Unido, Alemanha e Portugal, respetivamente, no concelho de Machico esses mercados foram França, Alemanha e Polónia, respetivamente. Ou seja, dois dos principais mercados que procuram o concelho não se encontram nos três principais mercados que procuram a região!
Após uma análise rápida pelos números, verifica-se que mais importante do que surgir novos empreendimentos turísticos no concelho, o necessário é aumentar a taxa de ocupação dos existentes, por forma a aumentar o rendimento, e com isso atrair novos investimentos. Obviamente que os investimentos, neste caso em particular, são da responsabilidade dos privados. Cabe no entanto ao setor público criar as condições, isto é, a confiança para os atrair!
Os potenciadores de procura são importantes, neste caso os eventos. Contudo os números indicam que os mesmos podem não estar a produzir o efeito desejado, isto porque apenas são capazes de atrair procura no momento do próprio evento, não se estendendo ao resto do ano, como deveria ser também um dos objetivos dos mesmos.
O Ecos Machico é outro projeto importante, dinamizado pelo setor público. Este projeto tem por objetivo “a definição estratégica do plano de valorização e requalificação ambiental e de revitalização turística do concelho de Machico (…)”, segundo a Câmara Municipal de Machico. A produção deste projeto iniciou-se em 2012 tendo terminado em 2017, sem no entanto ter ainda tempo para produzir efeitos práticos. A única concretização visível até ao momento deste projeto foi a criação do site “Visit Mahico” (www.visitmachico.com), o qual torna-se também numa ferramenta importante de promoção do território através da imagem. Não obstante esta situação, é necessário uma atualização constante do mesmo, não só com imagens mas com conteúdos que possam dar alguma dinâmica à página e atrair potenciais visitantes e investidores.
Por outro lado, a definição das Áreas de Reabilitação Urbana (ARU), já implementadas, em conjugação com o Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbanas (IFRRU2020), já em funcionamento, são também excelentes ferramentas para atração de investimento. Contudo, é urgente concluir o Plano Diretor Municipal (PDM), com uma visão global e integrada para o crescimento do concelho neste setor, o qual encontra-se há muito tempo em revisão.
Neste sentido o setor público do concelho tem que ter a capacidade de definir uma estratégia de combate a estes números, nas suas diversas áreas e formas, em comunhão com a estratégia regional, tendo por objetivo dar prioridade a um setor de vital importância. É momento da procura turística olhar para um concelho que possui uma população hospitaleira, que possui os melhores acessos ao mar da região, que possui história, que possui cultura, que possui museus, que possui um aeroporto a cinco minutos de distância, que possui uma floresta classificada como património mundial, que possui um dos percursos pedestres mais procurados da região, a vereda da Ponta de São Lourenço, situado em pleno Parque Natural da Madeira, que possui infraestruturas públicas modernas, que possui um campo de golfe elogiado por esse mundo fora, sendo o maior da região, que possui uma gastronomia própria, que possui segurança…enfim uma quantidade de características diferenciadoras, que permitem inverter estes números, criando condições para que a localidade seja apetecível todo o ano.
O Turismo tem que ser obrigatoriamente a prioridade. Machico tem de ser capaz de aproveitar os anos de “ouro” que a região vem registando no setor. Não pode perder mais tempo, sob pena de deixar comprometido o presente e sobretudo futuro da sua economia!