Avelino Abreu
Avelino Abreu
Estamos a finalizar a época das vindimas e há quem diga que quando o mar começa a mexer o vinho começa a ferver.
Sendo esta produção uma das mais importantes da nossa região, o Vinho Madeira sempre foi um verdadeiro embaixador nas terras estrangeiras ora não fosse utilizado para brindar à Independência dos Estados Unidos da América ou até mesmo entrando na obra Falstaff de William Shakespeare.
Sendo um vinho fortificado, compara-se à raça do madeirense. Pessoas fortes que não têm medo de subir montanhas, de abrir caminhos, levadas e construir os famosos socalcos que tanto dão beleza à nossa Ilha. Beleza que foi elevada a pompa e circunstância numa elegância quase barroca quando brindamos e saboreamos um bom cálice de vinho madeira enchendo-nos de orgulho pelo produto ser madeirense. Afinal as lágrimas e gotas de suor valeram a pena mostrando que a sua bravura transformou-se numa estrada de reconhecimento pelo mundo fora.
Pessoas que não têm medo do mar, mesmo quando este mexe, que luta por um dia melhor dedicando-se às atividades piscatórias como sustento das suas famílias. Pessoas que enfrentarão o Atlântico no famoso paquete português Santa Maria à procura do incerto, do desconhecido numa tentativa, por vezes falhada, de dar um rumo melhor às suas vidas.
Vivemos numa época a “ferver” e tal como o vinho, é preciso ter muita paciência e nunca perder o foco pois pode azedar. A sociedade está aos trambolhões e quase que se ouve aquele som de chiar quando o vinho está a ferver e a borbulhar na pipa. Tal como os nossos antepassados quase que caminhamos para o incerto mas ao contrário deles, temos nas nossas mãos a verdadeira arma, a liberdade – não confundir com libertinagem – de poder dar rumo ao incerto. Temos nas nossas mãos o astrolábio e a bússola e não devemos deitar fora nem perder o valor destas ferramentas pois senão o mar irá mexer como nunca e o vinho irá ferver como nunca.