Paula Noite
Paula Noite
A vida deveria ser como a Matemática: um universo infinito. Composta de imensos conjuntos, cujo cardinal fosse o maior, o maior possível.
Que o sinal de pertença fosse unicamente para as palavras positivas: saúde, esperança, amor, tolerância, boa vontade, solidariedade, flexibilidade, paz….
Todas as outras, as palavras negativas, estariam com um sinal de não pertence, num imenso conjunto sem interseção possível.
O nosso percurso seria então uma linha reta, sem acidentes.
Na realidade temos momentos em que achamos que é tudo muito exato, tal como o teorema de Pitágoras, em que o quadrado da medida da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos. Que a vida decorre numa linha que ao invés de ser reta, afinal é um segmento de reta. Porque a vida tem um fim.
Mas de repente, à medida que o tempo passa, tudo se enche de linhas curvas e oblíquas, de acontecimentos que tal como os polígonos se compõem de muitos vértices os quais nem sempre conseguimos limar. Os problemas, esses surgem muitas vezes com um expoente máximo. Não conseguimos muita vez calcular nem a sua raiz quadrada.
Multiplicam-se então as equações; é a altura em que experimentamos variadas fórmulas com vista à resolução do problema. Comunicamos resultados, variamos estratégias…. E chegamos a resultados equivalentes.
Observando as vidas paralelas de alguns, continuamos a somar, subtrair, multiplicar e dividir equiparando a nossa vida à montagem de um tangram. Onde, por vezes, as peças não encaixam. E não se constrói o modelo pretendido.
E vivemos cada dia, de modo geral circunscritos a um lugar, às mesmas rotinas. E andamos anos a fio num círculo de diâmetro enorme. Donde não se sai muitas vezes.
Continuamos na nossa área de conforto, num simulado equilíbrio, seguindo um padrão de vida. Acumulam-se os desejos reprimidos em cubos e prismas sobrepostos, donde transbordam não poucas desilusões, sulcando rugas profundas em nossas faces.
Desconhecemos de todo o comprimento da nossa estrada, ladrilhada de um padrão regular. Teimamos em fazer simetrias, em busca de harmonia, beleza e perfeição.
E continuamos num país onde a soma das parcelas nem sempre está certa. Porque adicionamos mal. Mas, ironia do destino, muitas vezes neste nosso lugar parece que o problema afinal não é de quem errou, mas sim de quem corrigiu…
Afinal nem só na Matemática falamos de irracionais…