A “Festa” na Madeira corresponde ao período que decorre entre 8 de dezembro e 15 de janeiro. É o Natal que é vivido de forma intensa por todos os madeirenses.
Neste mês da “Festa”, entre os dias 16 e 24 de dezembro celebram-se as “Missas do Parto”, que consistem em nove missas referentes aos nove meses de gravidez da Virgem Maria, conhecida também por Virgem do Parto. Também são conhecidas como “Novenas do Natal” ou “Novenas do Menino Jesus”. São uma espécie de preparação espiritual para a “Festa” ou Natal. Trata-se de uma prática litúrgica da qual já temos referências no século XVII mas segundo José Eduardo Franco, foi introduzida pelos padres franciscanos, aquando da sua ação pastoral nos primórdios do povoamento do Arquipélago.
Tradicionalmente, ocorrem de madrugada, a partir das 5:30 ou 6:00, e o facto de se realizarem a esta hora tem a ver com o simbolismo da “hora e ambiente em que Jesus nasceu e por este ser a luz que nasce para o mundo“e também tem como objectivo não interferir no quotidiano da população, particularmente a das zonas rurais, que começa a labuta diária ao nascer do Sol. Noutros tempos muita gente vinha em grupos e a pé de outros sítios da freguesia, para tornar o trajetos mais agradáveis vinham tocando e cantando. Na frente do grupo ia o tocador de búzio para ir acordando os mais atrasados.
Nos dias de hoje, praticamente já quase ninguém percorre os caminhos a pé, com destino à igreja. No adro da igreja, os grupos de tocadores reúnem-se, para tocar antes e depois da missa cânticos e música de cariz natalício.
A celebração termina com o tão tradicional cântico de evocação à Virgem do Parto, que aqui reproduzimos:
“1-Virgem do Parto, ó Maria, Senhora da Conceição
Dai-nos as festas felizes a paz e a salvação.
2-Senhora Virgem do Parto,
que nesse altar estais, atendei-nos, carinhosa, os filhos que tanto amais.
3-Louvada sejais, Senhora,
e a Vossa Conceição,
vós sois a Mãe protetora da portuguesa nação.
4-Rainha, mãe amorosa que no vosso altar estais, atendendo carinhosa,
os filhos que tanto amais.
(…) “.
Finda a missa, vem então a parte profana: no adro da igreja, reúnem-se os grupos de cantares tradicionais tocando instrumentos musicais regionais, como o acordeão, o brinquinho, entre e simultaneamente há uma interessante partilha de bebidas, cacau, sandes de carne de vinho e alhos, as broas, a canja e o bolo de mel, entre outras iguarias da “Festa”.
Isabel Gouveia