Ricardo Catanho
Ricardo Catanho
A freguesia de São Vicente, a qual também dá o nome ao nosso concelho, é, sem qualquer espécie de chauvinismo bairrista, o mais belo vale da nossa Ilha da Madeira.
A origem do seu no nome está ligado a várias lendas que, infelizmente, me parece que se tem perdido, esses contos, essas histórias ficcionadas cheias de sabedoria popular que, a minha e as anteriores gerações, ouvíamos em criança, se tem perdido no tempo, dizia, contamos cada vez menos aos nossos filhos, as crianças da nossa terra.
A nossa identidade, as nossas origens, são o que temos de mais valioso como seres integrantes de uma determinada cultura ou sociedade. E esses valores que agora nos passam um pouco ao lado, em parte também devido ao nosso quotidiano e à nossa forma de vida, nos leva a reenquadramentos das nossas prioridades.
Num mundo cada vez mais globalizado, cada vez mais instantâneo, onde os ritmos e tendências são cada vez mais marcados pelas ditas redes sociais, é fundamental que cada Freguesia, cada sítio, preserve a sua identidade, a sua cultura e a sua história. É mesmo um dever de cidadania, como que uma homenagem aos nossos antepassados que devemos deixar esse legado às gerações mais novas.
Tudo isto, a propósito daquilo que eu acho que não está a ser feito… A Freguesia de São Vicente vive muito do instantâneo, do supérfluo. Nos nossos dias, em toda a ilha, quando se fala de São Vicente, uma larga maioria das pessoas refere logo: “as festas de São Vicente são um espectáculo….”. Pois são e também eu gosto, embora já tivesse apreciado mais a forma como este tipo de evento era realizado.
Chegamos à triste constatação de que a larga maioria dos madeirenses, quando se lembram de São Vicente, o mais belo vale da Madeira, a primeira coisa que pensam são as festas.
Ora isto, no meu ponto de vista, é muito redutor e a culpa não é dos madeirenses, a responsabilidade é de quem toma decisões e define estratégias. Vivemos no ‘Coração da Laurissilva’ uma floresta Património Mundial da UNESCO, uma das 7 maravilhas de Portugal, com uma história riquíssima e resumimos tudo a uns 4 dias de arraial?
Quero que a freguesia onde eu nasci e que continuo a viver, seja mais ambiciosa, que valorize e se orgulhe da sua história, da sua cultura, da nossa beleza natural única, do mar à serra, entre estas duas majestosas montanhas, que formam este magnifico vale, esta dádiva da Natureza. Contínuo a não ver a valorização desse património.
Numa terra onde já se fez campeonatos europeus de surf, continuo a ver surfistas a trocarem de roupa na estrada sem o mínimo de condições de privacidade, para eles e para quem passa. Temos uma frente mar belíssima e não temos nenhum acesso ou zona balnear condigna…
Fala-se muito de festas, ‘do pão e do circo’; está-se a valorizar o efémero e esquecer o essencial.
Criaram-se produtos de venda de marchandasing e esquecemo-nos de tudo o resto. Já nem sequer somos a ‘capital do norte’; somos cada vez mais um concelho de passagem. E isso sente-se nas ruas, nas pessoas (aquelas que ainda resistem em cá ficar).
O que me dá esperança em relação ao futuro é que os aspectos que referi anteriormente, sobre a verdadeira riqueza da nossa terra, continuam aqui. Basta aceitá-los e promovê-los.