Marta Freitas
Marta Freitas
A história da minha família na freguesia de Santa Luzia iniciou-se na rua Elias Garcia. Habitualmente, quando saía do Liceu, ia para um espaço comercial que o meu pai tinha nesta mesma rua, e ficava algumas vezes no degrau à frente da porta, aguardando a hora de regresso a casa e a observar as pessoas que pela rua passavam. Já o meu marido com frequência visitava o avô que vivia no conhecido “Prédio da Caixa”. Curioso que era um prédio que atraia a minha atenção, e fazia-me projetar no tempo, e pensar que seria um local agradável para habitar. Ironicamente, anos mais tarde, perante essa possibilidade, tivemos de recusar dada a ausência de estacionamento. E é então sobre este tão conhecido prédio que decidi escrever.
Este edifício projetado pelo arquiteto Chorão Ramalho, foi então inaugurado a 7 de Outubro de 1963 por Gonçalves Proença, na data Ministro das Corporações e Previdência Social, pelo facto de ser destinado a associados da “Caixa”. Nesta década o prédio apresentava-se como o mais alto e arrojado, com uma inovação, que era a presença de uma boca de lixo em cada andar, sendo este recolhido num compartimento destinado para o efeito. E a título de curiosidade, o facto deste imóvel ter mais de quatro andares (que era o máximo apresentado por alguns edifícios da época) criava uma certa insegurança nalguns moradores, havendo relatos de que sentiam oscilação do mesmo (contudo a construção ainda mantém-se de pé e com robustez).
Neste edifício habitavam essencialmente pessoas inseridas na classe média, que tivessem descontado para a “Caixa”, com um rendimento mínimo estabelecido e que permitisse pagar mensalmente desde 650$ (um T2) a 1000$ (um T3), sendo de preço mais elevado os que estivessem virados para o mar e com maior área. A possibilidade de os adquirir na totalidade foi mais recente.
No ano em que os moradores começaram a habitá-lo, também tinham a possibilidade de estacionar as suas viaturas na garagem que se localiza nos andares mais térreos do edifício. No entanto, iniciando-se mais tarde as obras para a construção do Centro Saúde do Bom Jesus, perante a necessidade de guardar alguns arquivos, a garagem foi solicitada e os moradores passaram a estacionar nos arredores, num terreno anexo, com a promessa de que a garagem iria ser devolvida para voltarem a estacionar os seus veículos.
Digamos que na década de 60-70, o trânsito na Elias Garcia era bem mais reduzido, e o prédio era abraçado por algumas moradias unifamiliares, e vizinho da Escola Francisco Franco, que não tinha a dimensão atual, sendo esta destinada a lecionar alguns cursos técnicos.
Entretanto concluiu-se o Centro de Saúde e iniciaram-se as obras para instalação do Instituto de Segurança Social. Nesta fase os residentes do arrojado bloco de apartamento foram convidados a estacionar nas redondezas, pois para esta construção também necessitariam do tal terreno anexo, sobre o qual o edifício seria implementado. Mas manteve-se a promessa de um dia ser devolvida a garagem para os seus veículos estacionarem!
Com o passar do tempo, novos prédios foram surgindo, novas estruturas foram implementadas, o comércio foi crescendo, a Escola Francisco Franco alargou as suas competências, a freguesia de Santa Luzia ganhou uma nova dinâmica, o fluxo de veículos foi aumentado, e hoje é ainda mais sentida pelos moradores ou herdeiros (que entretanto adquiriam na totalidade as suas frações) a necessidade de estacionarem os seus veículos…talvez até já tenham desistido de os ter! Talvez até já tenham mudado de zona para viver (visto que agora parte destina-se a alojamento turístico)!
Quanto à garagem, nunca mais foi devolvida como apalavrado!
O certo é que palavra dada, não foi honrada!