Longe vão os tempos em que as férias estivais eram mesmo “férias grandes”!
Quando frequentei a instrução primária, as aulas tinham início a 7 de outubro e a minha escola era um bonito edifício daqueles dos “Planos dos Centenários” do Estado Novo. Os “Planos dos Centenários” foram as escolas públicas oficiais que foram edificadas entre as décadas de 40 e 60. O Plano foi assim chamado para assinalar dois centenários, o terceiro centenário da Restauração da Independência e o oitavo centenário da Independência Portuguesa. Com esta construção em massa, pretendia – se que todas as crianças tivessem uma escola ao seu alcance e que cada escola tivesse um edifício adequado a um funcionamento normal.
A minha escola foi inaugurada num ano muito especial…1968! Tinha quatro salas, duas no piso térreo e duas no primeiro andar. No rés-do-chão nas traseiras do edifício ficavam as casas de banho que também eram quatro se não me falha a memória
Em cada sala, sobre o quadro de ardósia preto,existia um crucifixo ladeado por dois quadros, um do Marcelo Caetano, Presidente do Conselho de Ministros (Primeiro-ministro) e outro do Américo Tomás, o Presidente da República de então.Todasas manhãs antes de iniciar as aulas rezávamos.
No Natal recebíamos um brinquedo oferecido pelas professoras, era uma alegria!
Na frente da escola tínhamos um grande campo onde fazíamos as nossas brincadeiras e no lado esquerdo da entrada ficava a cantina. Penso que tal como grande parte da minha geração, estará na nossa memória gustativa o sabor nada agradável do óleo de fígado de bacalhau que nós éramos obrigados a tomar. Éramos colocados em fila indiana e um a um, com a mesma colher(na altura não havia preocupações higiénicas!) tomávamos a muito custo aquele “suplemento”. Note – se que aquele nutriente que reforçava o sistema imunitário e favorecia o crescimento era dado numa época em que na sua maioria as crianças tinham uma alimentação deficitária. O óleo de fígado de bacalhau era produzido no nosso país quando havia muitas frotas da pesca daquele peixe sobretudo nos bancos da Terra Nova.
Recordação mais agradável é a do leite quente tomado em canecas de plástico que íamos tomar na cantina acompanhado de um pedaço de pão…mas havia um dia da semana no qual o lanche era melhorado: sandes de ovo cozido e maçã. Era o melhor dia da semana!!
Mas esta escola também me traz recordações por exemplo, das primeiras eleições livres no ano de 1975!
Frequentei esta escola até ao meu segundo ciclo onde fui aluna da telescola (Curso Unificado Telescola).
O sistema de ensino da telescola foi instituído no ano de 1965 e tinha como objetivo possibilitar a escolaridade obrigatória que na época compreendia quatro anos de Instrução Primária e dois anos de Ciclo Preparatório. Pretendia ainda servir as zonas rurais que eram mais isoladas como também as zonas periféricas dos centros urbanos que tinha excesso de alunos. Inicialmente as aulas eram transmitidas através das emissões da tarde da RTP, no meu tempo, década de oitenta, as aulas eram disponibilizadas através de videocassetes …quantas vezes as cassetes que vinham do continente não chegavam e os nossos professores (os monitores) tinham de repetir a aula do dia anterior!
Os nossos professores eram dois: um lecionava Letras e outro as Ciências. Nas aulas colocavam a videocassete e depois exploravam os conteúdos apresentados tendo como apoio os materiais que vinham do Ministério da Educação. As fichas de avaliação e outros materiais para consolidação da matéria também vinham do continente.
Foi um sistema de ensino que recentemente por causa da pandemia, acabaria por ser recuperado.
Quando passo pela minha antiga escola recordo com saudade os tempos que lá passei, os amigos e os colegas que lá tive! Fruto da baixa natalidade, a minha escola corre o risco de fechar por falta de alunos…panorama que se repete por outras localidades da região.
Ah! E como a maior parte de nós, nunca esquecerei a minha professora primária que foi e será sempre uma referência na minha vida. Foi a prof. Manuela…a minha mana mais velha. Eram outros tempos!
Opinião de Isabel Gouveia