Ricardo Catanho
Ricardo Catanho
Maio, o mês das flores aquele mês em que na nossa ilha se começa a notar um reboliço e uma azáfama diferente em todas as freguesias.
A Madeira que é conhecida no mundo como a Perola do Atlântico ou ilha da Primavera eterna entre outros adjetivos simpáticos e sugestivos que este pedaço de terra situado ao meio do atlântico vai sendo catalogado simpaticamente por aqueles que nos visitam…
A minha área profissional é o turismo e sou especialmente sensível a estas questões. Este é o principal sustento económico da nossa Região, foi este sector que se aguentou de forma robusta durante o período difícil que todos nós passamos durante a crise financeira pós 2009, a nossa economia estava cada vez mais dependente do lóbi do betão com a fúria das inaugurações eleitoralistas e não se previu o futuro, não se tentou ver mais á frente, ver para além da obra que tinha como grande objetivo ganhar eleições.
Não sendo contra todas as obras feitas, e muitos delas tinham que ser feitas, não sendo também nenhum favor, pois havia grande disponibilidade financeira disponibilizada pelos fundos Europeus, mas o caminho seguido, na minha perspetiva foi muito redutor, foi sempre escolhido o caminho mais fácil e populista, pensava eu que essa via já fazia parte da história mas infelizmente aquilo que temos assistido recentemente é um voltar ao passado, uma regressão nesse sentido com o anúncio de obras megalómanas quase todos os dias…
E para a nossa principal fonte de receita, o turismo, o que tem sido feito?
Se não vejamos, vou-me concentrar em São Vicente, a freguesia sobre a qual escrevo, nos últimos anos o que é que foi feito na nossa terra?
Foi feito um posto de turismo e mais nada, quem quiser me contrariar pode fazê-lo mostrando com provas de que eu estou errado.
Embora o posto de turismo seja importante não é esse fator que faz com que as pessoas venham até cá, certo?
A promoção da Madeira no exterior é feita essencialmente com imagens do norte, é também com muitas dessas imagens que faz com que alguém em algum ponto do mundo escolha a Madeira e não outro sitio para passar as suas férias, devido ao fascínio proporcionado por essas mesmas imagens, o grande problema é que mais de 80% desse turismo que vem atrás desse fascínio do norte, fica instalado nas unidades hoteleiras do sul entre o Santa Cruz/Funchal e esses turistas se quiserem passar por cá têm que pagar uma excursão e se o Guia ou o condutor não tiver muita pressa ainda podem cá ficar pelo menos uns 30 minutos…
Penso que não é isto que nós queremos e grande parte dos turistas também, há cada vez um maior número de pessoas que quando viajam querem experienciar outras vivências, estar em contacto mais direto com a comunidade e a cultura local e não ficar na indiferença de uma grande unidade hoteleira com todo o conforto junto ao mar…
Há outros caminhos e nestes é onde São Vicente se deve concentrar, era bom que as autoridades governativas locais comecem a se concentrar de forma séria e com objetivos claros, eu e um grupo de pessoas ligadas ao turismo do nosso concelho nos últimos 4 anos fomos convidados pela Câmara Municipal a integrar um comité do turismo, após 4 anos de reuniões e partilha de ideias, começamos como acabamos, afinal este suposto comité era apenas “fogo-de-vista” para entreter e não tomar decisões…
Todos nós que gostamos desta terra temos que ser mais exigentes, reivindicativos e estarmos atentos, eu também gosto de festas e desporto mas temos que ser muito mais que isso se quisermos olhar o futuro com mais esperança, daí que gostava que São Vicente fosse promovido mais pela sua Natureza e todas as atividades diretamente relacionadas que esta oferece, como o Surf, o canyoning, passeios a pé, btt entre outros, que se embelezasse cada vez mais a freguesia com mais e mais flores, incentivar a criação de empresas de animação turística, levantamento do património histórico classificado, ter um grupo de trabalho a acompanhar as novas tendências e tentar implementa-las cá, promover uma maior articulação entre todos os concelhos do norte para a sua promoção associando o turismo à agricultura à industria, aos transportes e ao mar, numa estratégia coerente e de aproveitamento de recursos existentes.
Vamos fazer o que ainda não foi feito.