Ricardo Faria
Ricardo Faria
A freguesia de Machico celebrou o seu dia no passado dois de julho. Os aniversários, por norma, são momentos que aproveitamos para refletir.
Compreender o passado, pensar o futuro de modo a realizar o presente, poderá ser sem dúvida uma boa reflexão.
Machico desde sempre assumiu-se como polo de desenvolvimento económico da região. Com a sua bela baía, formando um porto natural, constituiu-se como uma praça essencial do comércio do açúcar, madeiras e vinho, paralelamente à atividade piscatória que continuou e continua a assumir um papel importante. O setor primário foi assim o primeiro a alcançar elevada importância na economia da freguesia.
Com o incremento do turismo a meio do século passado, o setor terciário passou a ganhar relevo, empregando muita população na freguesia. Machico, por essa altura, assumiu-se novamente, como um polo de desenvolvimento muito importante para a economia da região. A freguesia era uma das mais procuradas pelas famílias madeirenses para passarem os seus fins-de-semana ou as suas férias, sobretudo de verão. Aqui encontravam a hospitalidade natural do machiquense bem como uma bela baía, com uma das praias mais procuradas.
Contudo, nos finais dos anos noventa, com a quebra do turismo, com a abertura de novas acessibilidades um pouco por toda a ilha e com o desenvolvimento das restantes freguesias da região, Machico foi perdendo procura a todos os níveis, fazendo com que o setor terciário sofresse um enorme revés. A freguesia, por ser uma das mais antigas na região, necessitava de um incremento do investimento público dado o seu estado atrasado em relação às restantes.
Inicia-se assim no início deste século uma “revolução” na imagem da freguesia. Durante os primeiros anos da década de dois mil a freguesia mais parecia um “estaleiro”, tal a quantidade de obras que se encontravam em realização. De facto, existiu uma transformação total. Esta “revolução” fez com que existisse um enorme crescimento do setor secundário, o qual absorveu muita mão-de-obra.
Toda esta transformação pressuponha uma atração e um acompanhamento do investimento privado. Até ao final da década de dois mil, esse investimento revelou-se tímido em comparação com o forte investimento público, não havendo capacidade de diversificar a sua economia, através da criação de novos empregos.
A freguesia, como o concelho de Machico, apresenta-se hoje com uma cara renovada, mas com uma fraca dinâmica económica como revelam os dados da Direção Regional de Estatística. Segundo o boletim sobre o setor empresarial da Região Autónoma da Madeira 2018, referente ao ano 2016, o número de empresas não financeiras no concelho sofreu uma queda de 5% entre os anos 2011 e 2016, passando de 1.399 para 1.343. O mesmo acontece com o pessoal ao serviço no qual a queda foi de 19%, passando de 3.806 para 3.108, nos mesmos anos em análise, em contraciclo com o crescimento económico que a região vem registando. Desde junho de 2013 até março de 2018 que o Indicador Regional de Atividade Económica (IRAE) é positivo, ou seja durante 58 meses consecutivos, segundo dados da Direção Regional de Estatística.
Com a enorme redução do investimento público quer na freguesia como no concelho, o setor secundário é o que maior perda de emprego tem registado. Contudo, são os empresários locais que com muito esforço vão mantendo as suas empresas ativas, contribuindo para alguma estabilização do emprego, sobretudo no que diz respeito ao setor terciário. No entanto, muitos jovens hoje formados estão a procurar outras paragens, isto porque não conseguem encontrar ofertas de emprego, nem tão pouco que se coadunem com a sua formação, na freguesia.
Assim uma das formas de contrariar estes números terá forçosamente de passar pela atração do investimento privado, dinamizando e diversificando a sua economia e com isso gerando emprego de modo a fixar a sua população. Esta atração poderá passar por um conjunto de incentivos públicos direcionado aos investidores.
Um bom exemplo de diversificação económica através de incentivos públicos, neste caso realizado pelo Governo Regional da Madeira, foi a recente aposta na freguesia da Atlanticulture. A Agência Cultural e Criativa sediada na Madeira, pretende através do espaço físico do Fórum Machico contribuir para a unificação da cultura das ilhas atlânticas, da Macaronésia e dos países de língua portuguesa (CPLP), assumindo este propósito com uma das missões mais importantes no espaço temporal 2018/2030, segundo Sérgio Nóbrega CEO da Atlanticulture, em entrevista ao Diário de Notícias da Madeira. Esperemos que tenha o sucesso desejado, como forma de contribuir também para a criação de emprego na freguesia.
Machico tem uma localização privilegiada, por estar entre as duas principais portas de entrada da região. Isto é, de um lado o Porto Comercial do Caniçal, onde entram as mercadorias e do outro o Aeroporto Internacional da Madeira-Cristiano Ronaldo, onde entram os nossos turistas. Esta localização em conjugação com as modernas infraestruturas públicas e com uma população jovem cada vez mais formada faz de Machico uma freguesia com enorme potencial, merecedora de oportunidades de investimento.
O desafio no presente passa, portando, por ir ao encontro de potenciais investidores criando um conjunto de incentivos capaz de precaver o futuro através da diversificação económica da freguesia, enquanto não surgem os investimentos hoteleiros.
Não podia terminar sem saudar um grande Machiquense, José Tolentino Mendonça. A sua nomeação para arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano e bibliotecário da Santa Sé, pelo Papa Francisco, passando a tutelar a mais antiga biblioteca do Mundo, orgulha todos os Machiquenses! Votos de muito sucesso.