Após o “Dia de Natal” chegavam as “oitavas da festa”. Atendendo à importância que a primeira oitava tem para o povo madeirense e a tradição da “Festa” e de forma a «perpetuar» uma das «oitavas do Natal” o Governo Regional instituiu em 2002, o feriado regional através do Decreto Legislativo Regional N.º 18/2002/M, de 8 de Novembro. As festas natalícias vividas com alma e sendo uma época particularmente importante para os madeirenses toda ela recheada de costumes e tradições que infelizmente já se perderam e das quais conservo na lembrança. Ainda conservo na memória algumas tradições que já se perderam, como a dos “Mascarados” do Natal na Ponta do Pargo (em Machico ainda persiste este costume).
E ainda, outra singular tradição era o chamado “Dia da Greve” que na Ponta do Pargo era conhecido como o “Dia do Tacho”. Acontecia na segunda oitava, que era considerada ainda dia de festa e sendo assim, nas zonas rurais, ninguém deveria trabalhar. Deste modo, se vissem alguém a trabalhar, quer na terra, quer no comércio ou até noutra atividade, começavam a tocar tachos ou tampas de panelas e chegavam mesmo a retirar os objetos de trabalho e enquanto quem estivesse a trabalhar não deixasse o que estava a fazer, eles continuavam a fazer barulho.Durante estes dias, eram habituais as visitas aos familiares e amigos para visitar a “lapinha”, nestas visitas provavam-se os licores, as broas e os bolos confecionados para a “Festa”.
A terceira oitava era também um dia especial, celebrava-se o “Dia dos Inocentes”, então era o dia de ir à missa e na saída estar com os amiguinhos(uma vez que os os outros dias eram passados em família)e contar o que o Menino Jesus nos tinha trazido. Neste dia, geralmente vestia-se uma roupa nova. O final do ano não era hábito vir ao Funchal ver o fogo de artifício, hábito era comprar os “beijinhos”, os “potes” e as “bombinhas” que eram lançadas na noite de S.Silvestre.
As oitavas não eram só as “oitavas da Festa”, depois da grande Noite de S.Silvestre ou festa do «Fim do Ano», também se contavam as «oitavas do Jesus» (primeiro dia do ano) e as «oitavas dos Reis» (6 de Janeiro). E chegava janeiro com o “Cantar dos Reis”. Precisamente acerca do “Cantar dos Reis” fomos encontrar num interessante livro de recolhas realizado pelos alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico Recorrente, intitulado “Memórias com História”publicado pela Secretaria Regional da Educação e Recursos Humanos e Direção Regional de Educação em 2012.
No que toca à memória ancestral e à cultura popular regional, os nosso maiores são uma “enciclopédia viva”. Nesta obra foi interessante descobrir um “Cantar os Reis à moda da Ponta do Pargo” o qual passamos a reproduzir na íntegra.
Refrão: “Que vós sabíeis Que vós sabeis Que nesta noite Se canta os Reis Eu venho cantar os Reis Passei pela Chadinha Venho dar as boas festas À Professora Cristina. Refrão: Que vós sabíeis Que vós sabeis Que nesta noite Se canta os Reis Eu venho cantar os Reis À casa do meu vizinho Senhora abra-me a porta E mostre-me o Deus Menino. Refrão: Que vós sabíeis Que vós sabeis Que nesta noite Se canta os Reis. Após os “Reis” caminhámos a passos largos para o encerrar desta época festiva tão querida para todos os madeirenses!
E assim a “Festa” chega ao fim com o “Santo Amaro” e o seu “varrer dos armários”. Este Santo é celebrado em algumas freguesias da Madeira, particularmente, Paul do Mar, Santa Cruz e Santo Amaro, no Funchal. Diz a tradição que na noite de 14 para 15 de janeiro, as pessoas se juntem e munidas de vassouras e pás, andem de casa em casa, tocando, cantando e comendo as iguarias que sobram do Natal, daí a expressão “varrer dos armários”.
As quadras entoadas são em grande parte semelhantes em toda a ilha…quem já não trauteou estas quadras? “Vamos varrer a lapinha, Deixai-nos entrar, Senhora, Trazemos connosco a pá E também uma vassoura. Santo Amaro é bonito É bonito não se o deixa Para provarmos o vinho Com cebolas de «escabecha»”. E assim termina o período da “Festa” madeirense iniciada a 8 de dezembro, Dia da Imaculada Conceição, no dia 15 de janeiro, com o “varrer dos armários” e dia de Santo Amaro. Que o novo ano nos traga muita saúde, harmonia e paz e que a próxima “Festa” em 2021 seja vivida nos moldes em que a vivemos até ao ano passado!