Numa fase em que se convive com mais medidas de contingência, para conter a propagação do novo Coronavírus, talvez interesse refletir sobre alguns fatores do mundo atual. Neste período de fortes exigências à saúde, à sociedade e à economia, aliadas à realidade política que se vive em termos mundiais, marcada pela mudança de paradigma nos Estados Unidos da América, sobretudo no fator de estilo de liderança – espera-se, mais inclusiva e humana – vive-se numa clara oportunidade para repensar o caminho e aprender com erros do passado.
Cada crise constitui uma oportunidade de desenvolvimento e de crescimento. Por este motivo, importa pensar que caminho pretendemos seguir. O facto mais premente que temos é o esforço notório de uma parte substancial da sociedade portuguesa para conter o vírus, dos contextos organizacionais aos familiares e extensível às ações politico-governamentais, particularmente no que toca à Região Autónoma da Madeira. Existem tentativas para dar resposta a esta crise, com esforços comportamentais, cognitivos e emocionais bem patentes. Face a esta evidência, e dada toda a contingência que impera no imediato, já ecoam os naturais (e legítimos) alertas para as recessões económicas dos próximos tempos. O que se espera é que não seja esquecido todo o esforço e a inevitabilidade das medidas assumidas e dos comportamentos adotados. As pessoas sentem na pele cada minuto que não trabalham, pelo facto dos setores de atividade onde exercem não terem, atualmente, volume de negócio suficiente para manter os seus postos de trabalho. As pessoas vivem assustadas com a possibilidade de infectar um familiar e, no avançar do tempo pandémico, terem dificuldades em alimentar as famílias. A sociedade tem aplicado todos os esforços para manter a resiliência, em tempos de incerteza. Isto tem custos humanos.
Por isto e muito mais, é imperativo aliar o crescimento económico à dignidade humana. A visão capitalista dominante, digamos assim, desprovida, por vezes, na sua aplicação, de sentido dessa tal dignidade humanamente plural, tem ferramentas para se reinventar em termos de postura. É hora de se difundir e aprofundar os princípios da economia humanista e do capitalismo humanista.
José Sáez foi um escritor, humanista e economista espanhol que defendeu uma economia “mais humana, solidária e capaz de ajudar a desenvolver-se, tendo em consideração a dignidade das pessoas”. Já no campo do capitalismo humanista, autores como Balera ou Sayeg ofereceram uma marca determinante ao capitalismo neoliberal. O objetivo foi orientá-lo para uma visão promotora de igualdade, de liberdade e de fraternidade na ação. Isto respeitando a dignidade da pessoa e aliando, aos deveres, os direitos humanos, ao invés da mera orientação para o lucro.
As pessoas sentem na pele cada minuto que não trabalham, pelo facto dos setores de atividade onde exercem não terem, atualmente, volume de negócio suficiente para manter os seus postos de trabalho. As pessoas vivem assustadas com a possibilidade de infectar um familiar e, no avançar do tempo pandémico, terem dificuldades em alimentar as famílias. A sociedade tem aplicado todos os esforços para manter a resiliência, em tempos de incerteza. Isto tem custos humanos.
É, por isso, tempo de planear um futuro compassivo com todo o esforço atual das populações. Se a sensibilização e alerta para conter o vírus foi interpretado como “política do medo”, por alguns, então agora que não se use o medo e a construída incerteza economico-financeira para impingir mais restrições vitais, no peri e pós pandemia. É preciso que a União Europeia, com compromissos internos e internacionais, adotem políticas com base numa postura beneficente e não-maleficente.
É por isso importante, além da eficácia capitalista, olhar-se à eficiência das medidas e os impactos humanos, onde se inclui a saúde. Isto poderá levar a uma consciência, no futuro, de que esta foi uma crise que tornou a sociedade mais humana, saudável e, por isso, economicamente próspera.