Juvenal Rodrigues
Juvenal Rodrigues
No pretérito dia 5 de Maio de 2018 teve lugar no auditório da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior a apresentação da edição especial de arte popular “Mouriscas com História” em homenagem ao cancionista popular Eleutério Gonçalves Martins de Nóbrega, uma figura querida da freguesia de Stª Maria Maior.
Este trabalho de pesquisa e investigação foi levado a cabo pelo responsável do “Grupo de folclore e etnográfico da Boa Nova, Danilo José Fernandes, versando sobre cantigas populares, estórias, lengalengas, adivinhas, trava-línguas e provérbios.
Infelizmente, já todos sabemos que à cultura não é dado o ênfase que ela merece já que é uma herança imaterial que deixamos às gerações vindouras e nunca deveria ser esquecida.
A nossa terra, a Madeira, é tão rica em tradições populares que merecia mais divulgação, mais empenho pelos agentes da cultura. Desde o nosso vocabulário peculiar até os nossos cancioneiros populares, encontramos expressões muito próprias que, no futuro, deveriam ser sempre lembradas.
A nossa expressão musical muito tradicional é, toda ela, um tesouro a preservar. Infelizmente pouca da nossa juventude sabe o que são musicas populares como o charamba, o chama-Rita, o despique ou os cantares-ao-desafio. Este é, sem dúvida, um legado cultural imaterial que temos obrigação de preservar para que os nossos filhos e netos mantenham esta tradição.
Este “caderno nº4” resultado da obra de pesquisa de Danilo Fernandes, é rico em prosas e quadras soltas que, com a devida vénia, vou aqui transcrever algumas que me chamaram particularmente a atenção:
Esta coisa de casar
não é pôr o pé no adro,
sustentar mulher e filhos
ah q’a porca troce o rabo.
Minha mãe casai-me nova
enquanto eu sou rapariga,
quem semeia trigo tarde,
não dá palha nem dá espiga
Ao passar o cemitério
deu-me gana p’ra chorar,
ai a vida deste mundo,
a volta que se vai dar
Muito, nesta obra, merecia ser transcrito uma vez que toda ela é rica em sabedoria popular mas o espaço para escrever não permite.
Todavia se Eleutério Nobrega teve hoje esta merecida homenagem, outros poetas populares anónimos, que ainda abundam na nossa ilha, levarão para a sua última viagem os seus versos e prosas que não tiveram o privilégio de serem notados nem divulgados.
A minha freguesia, Santa Maria Maior, digo-o com orgulho, felizmente tem ainda -que eu conheça- outro poeta popular anónimo chamado Teago Ferreira que eu, em jeito de brincadeira, costumo apelida-lo de “Poeta do Mar” dado a sua residência se situar próximo do mar, na zona do Touco.
Ele também possui dezenas de prosas e versos porque dedicou grande parte da sua vida a escrever versos populares, um dos quais, versa sobre a nossa freguesia e que ele me deu permissão para para publicar:
Vamos cantar nossa marcha
zona leste do Funchal
Santa Maria Maior
Freguesia sem igual
da beira do mar à serra
todos querem festejar
vem daí trás uma flor
vai procurar o teu par
Stª Maria Maior
protege a nossa cidade
somos amigos da paz
vivemos na amizade
Abre bem essa janela
vem ver a marcha passar
a rua está embandeirada
a festa não vai parar
A marcha é p’ra toda a gente
aqui não há distinções
rapazes e raparigas
alegrai os corações
Stª Maria Maior
és a nossa freguesia
bonita e bem disposta
cantas de noite e de dia
Pela parte que me toca presto o meu singelo contributo divulgando estas enciclopédias vivas que vivem no anonimato mas que mantêm vivas as nossas tradições e que temos o dever histórico de preservar a todo o custo para bem da cultura populara madeirense.
PS: Já agora porque não um recinto onde todos os poetas populares madeirenses tivessem a oportunidade de darem a conhecer os seus trabalhos? Pois tenho a certeza que a nossa cultura popular sairia substancialmente enriquecida.