A cascata do Véu da Noiva anuncia a chegada ao Seixal, freguesia do concelho do Porto Moniz, no Norte da ilha da Madeira. Localizada na estrada que liga São Vicente ao Seixal, a cascata é um dos pontos mais icónicos da costa norte madeirense. Do miradouro, a vista é arrebatadora. A água proveniente da ribeira de João Delgado despenca pela encosta verdejante até se lançar no Atlântico, formando o romântico ‘véu’ que lhe dá nome. Uma imagem que seduz turistas e residentes, marcando o início de um destino que atrai milhares de pessoas diariamente e que integra o ciclo de reportagens que o DIÁRIO tem vindo a fazer pelas freguesias da Região Autónoma da Madeira, num roteiro que antecede as eleições autárquicas de 12 de Outubro.
Poucos quilómetros adiante, a estrada revela, num abraço entre o mar e a montanha, o Seixal. A freguesia tornou-se um caso sério no turismo regional, sobretudo pela fama internacional da sua praia de areia negra, eleita, em 2022, a 3.ª ‘Melhor Praia da Europa’, pela European Best Destinations, que descreveu o local como “uma das mais belas praias da Europa pela beleza do seu areal vulcânico, das suas águas cristalinas, das incríveis falésias onde se apega a vegetação luxuriante”.
A moldura idílica enfrenta hoje um grave problema relacionado com o elevado fluxo turístico, nomeadamente a falta de capacidade para acolher tamanha procura.
Beleza que atrai e congestiona
Desde a pandemia da covid-19, o número de forasteiros tem aumentado de ano para ano, transformando o acesso à pacífica localidade num quebra-cabeças diário. Carros estacionados sobre passeios, em segunda fila, em linhas amarelas e até mesmo no meio da faixa de rodagem são uma cena habitual no Seixal, sobretudo junto à praia do porto. A Polícia de Segurança Pública (PSP) não tem mãos a medir para punir os infractores. Durante a reportagem foi possível constatar que os agentes passavam multas a várias viaturas, numa rotina que, segundo os moradores, se repete todos os dias.
A elevada concentração de pessoas e de carros faz com que a população local já não se sinta segura.
A caminho de casa, na descida para a idílica praia, Maria Conceição, no alto dos seus 84 anos, constatava que “já não vive tão bem quanto antigamente devido à quantidade de estrangeiro” que ‘invade’ o Seixal todos os dias. “Hoje a gente quer andar no caminho e não pode com tanto carro. Deviam fazer mais estacionamentos e passeios para o povo poder andar à vontade, em segurança. Nós já não podemos ir até à praia de carro e até mesmo a pé dá medo porque é muito movimento.”
Apesar das queixas, a reformada entende que “se não fossem os estrangeiros” o comércio local do Seixal “não sobrevivia”. De resto, afirmou, “está tudo bem”.
Mais acima, no espaço de restauração ‘Banzeiro’, o proprietário Mário do Espírito Santo não tem dúvidas de que a vida no Seixal “está num período de grande mudança”. O jovem empresário perspectivava a construção de novas infra-estruturas para responder ao elevado movimento de turistas na localidade.
“Neste momento, sentimos algumas consequências do excesso de movimento, há pessoas que querem visitar o Seixal, mas não têm onde parar porque o número de lugares de estacionamento é bastante limitado”, apontou.
Para solucionar o problema, além da criação de mais parqueamento, o empresário sugeriu a promoção de outros pontos turísticos da freguesia, além da praia: “O Seixal tem muito mais para oferecer. À volta da praia – que é pequena – existem vários pontos de interesse. É importante mostrar que o Seixal não é só a praia.”
O importante, destacou, é não fechar portas a uma importante fonte de receita para o comércio local. “Para nós, o futuro depende também do turismo, é bom que haja este movimento. Só é preciso termos cuidado para que este turismo não prejudique a vida local.”
Num dos negócios da Estrada de Santo Antão, o antigo secretário regional dos Assuntos Sociais, do Governo Regional liderado por Alberto João Jardim, Francisco Ramos enaltecia “a pérola do Norte da ilha da Madeira”, que enfrenta hoje algumas dores de crescimento, principalmente ao nível da mobilidade.
“As ruas estão bloqueadas com tantos carros, o que torna muito difícil a circulação dentro da freguesia”, lamentou. O antigo governante criticou a estratégia municipal de mobilidade, que ao invés de atenuar os constrangimentos, complica ainda mais, dando exemplos concretos da Estrada de Santo Antão e o acesso à praia. “É muito importante criar mais saídas [estradas] e mais estacionamentos para que as pessoas possam circular dentro da freguesia com mais conforto e com mais segurança, acima de tudo”, defendeu.
“O fluxo de carros torna muito difícil a circulação, até mesmo a pé, as pessoas com necessidades especiais quase que ficam prisioneiras. Há casos de populares que muitas vezes encontram a porta dos seus estacionamentos privados bloqueada com carros.”