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31 Janeiro, 2018
Frente-mar do Porto da Cruz
6 Abril, 2018

Porto da Cruz: ensaios da memória

6 Março, 2018 às 15:14
Duarte Olim

Duarte Olim

Revisitar esta freguesia, desvelando o que dela guardam as memórias, perscrutando, da sua essência, melodias, cheiros, imagens e lembranças, é um exercício de nostalgia.

São assim todas as viagens à infância, em que o nosso olhar para o meio, tinha no cenário contemplado, algo de idílico, de fascinante e de belo. Nele, o bucólico e o pitoresco eram certezas.

E neste delicado recorte do litoral, nos bancos de areia negra destas singulares praias, nas arribas abruptas que desafiam a altura e causam vertigem, como a Penha de Águia, ou nos numerosos montes, cabeços ou elevações encimadas por planuras como a Achada e a Terra Baptista, ou cumeadas como o Serrado e a Referta, há um turbilhão de sensações que se entranham em nós e jamais nos largam.

Refrescam-nas os vales profundos, murmurantes, que recebem águas brotando de nascentes e se juntam aos caudais perenes, ladeados por vegetação exuberante, antes de, nas margens, alguém imaginar que muralhas dariam a estes cursos, disciplina.

Avistam-se igualmente formações sedimentares mais frágeis que a erosão vai moldando e obras pueris aceleram, obrigando a cirurgias estéticas que não resultam na modelação orográfica.

Destes cumes, invariavelmente, vê-se a Ponta de São Lourenço, que oferece ao olhar continuidade e libertação. Com tempo amigo avista-se outra ilha. Dizem ser dourada, mas desta lonjura, apenas desmaiados contornos e uma ideia de férias, que a indigência nela não almeja estanciar; ali, em terra de tradição rural, mourejava-se sem cessar.

Antes de se colher o produto de uma cultura, já se preparava outra para rentabilizar a produção. Na maior parte das vezes, as culturas cresciam em consociação plena, para lograr ao agricultor, diversidade de colheita que acudisse às suas necessidades de subsistência, e às da família da qual era incumbido de alimentar.

Na mais íngreme nesga de terra, sempre, mas sempre uma possibilidade de cultivo, que ao cenário oferecia uma estruturação em socalcos. Arrufos, até viris, eram os da disputa da água.

O regadio, em período estival, acicatava a violência, se injustamente fracionado aos regantes. O calor e eflúvios alcoólicos exacerbavam-na. Mesmo as ervas daninhas eram raras. Eram alimento que, nos palheiros e currais, engrossavam bovinos e caprinos, para festividades que se avizinhavam em recompensa. Estes imperativos de sobrevivência eram sacrifícios que o rito religioso, no seu cânone, amenizava. No desamparo, era o seu refúgio.

Mas o viver aqui era iminentemente rural. E se na labuta o camponês tem essa conotação com a submissão a Senhorios, latifundiários, proprietários das terras, a quem se dava um generoso quinhão, foi este feudalismo tardio e opressor que, do suor cruel de uns, fez erguer solares destoantes das modestas casas dos colonos…

Uma pausa. Um chilrear de pássaros e, inopinadamente, o frémito de uma enxada penetrando na terra, um latir de cão; mais além uma cabra berrando, esfaimada, e uma vaca mugindo; ali perto o grunhir de um porco e cantos de galos em despique por todo o lado, como que celeumas sonoras que ecoam de forma fácil entre cabeços, outeiros, unindo orografias de difícil transposição física, comunicando por sons, por ecos, por pontes imaginárias. Se dúvidas houvesse, as dificuldades no atravessamento físico ganham previdência com o aviso: Ribeira Tem-Te-Não-Caias!

De chofre, abalroa-nos, com a força de um vulcão, o chamamento de uma mãe. Acto contínuo, a correria de uma criança descalça no seu encalço.

Nos areais, da erosão do basalto formados, havia sempre um acesso privilegiado ao mar. Nos penedos, a protecção da costa. E se possíveis ameaças da época vinham desse manto aquático infinito, no Pico, encimado por um Fortim rudimentar em pedra, temia-se avistar inimigos. À suspeita do seu avistamento, dava-se o alerta.

Mas o viver aqui era eminentemente rural. E se na labuta o camponês tem essa conotação com a submissão a Senhorios, latifundiários, proprietários das terras, a quem se dava um generoso quinhão, foi este feudalismo tardio e opressor que, do suor cruel de uns, fez erguer solares destoantes das modestas casas dos colonos; sarado esse tempo de exploração, admira-se o edificado, património, normalmente erigido em linhas de cumeada, de vista desafogada, relegando o casario do pobre para as encostas íngremes. Homens, por vezes solitários no frenesim tarefeiro, tinham o condão de convencer o fiel amigo, canídeo, a seguir-lhe sem hesitações os passos. Era uma parelha característica.

Defendida por asas protectoras destas rochas, destas fragas, destes picos, o Porto da Cruz tem na sua continuidade três ilhéus que com a costa dialogam; um autoritário, outros dois, seus acólitos.

Nestes elementos dominantes em altura, como arquétipo geográfico que modela a freguesia, às vezes escuta-se o silvo agudo de um engenho que, num remanso de um monte, labora, ou os anúncios da torre da igreja, quando os seus sinos repicam, com a mesma melodia de antes, anunciando novos amanhãs que, sem reverência às memórias do passado, se esvaziam.

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