Ainda há dias em que tudo nos parece surreal… Parece que estamos perdidos nos manuais de história a ler sobre a gripe espanhola, num qualquer filme de sci-fi sobre um vírus qualquer que se transmite de forma misteriosa e se espalha pelo mundo matando milhares de pessoas e sem cura descoberta, os olhos colados aos ecrãs à espera que a ilha, como por milagre, seja poupada à dura realidade que se vivia pelo mundo fora… Depois, e porque a vida felizmente não para, preparamo-nos para sair e confirmamos se temos connosco todos os elementos necessários numa nova check-list mental que nunca sequer nos passou pela cabeça: chave do carro – certo, carteira – certo, chave de casa – certo, óculos – certo, álcool gel – certo, máscara – certo! Ah! Máscara suplente – certo!
Naquela que tem sido uma evolução típica de uma pandemia e passados mais de dois anos, começam a aligeirar-se as medidas de contenção e estamos a dias de deixar para trás as máscaras que a República, aliás, já legislou. Contámos agora pelos dedos das mãos os familiares e conhecidos que ainda não testaram positivo para o covid, regressam os casamentos e batizados, as festas e romarias, os arraiais e as tradições… continuamos, alguns, a lembrar-nos que o covid-19 é ainda uma realidade, mas que a necessidade de (responsavelmente) voltarmos a ser nós, quer de forma individual quer de forma coletiva, é inadiável.
A ilha precisa de um boost a nível da economia e de sair definitivamente do marasmo a que o COVID nos confinou e que nos obrigou a reinventar toda uma forma de viver, de ser, de estar.
Estamos a dias de retomar a nossa Festa da Cebola em formato presencial. Uma festa que é tão nossa e que representa uma grande parte do património cultural e imaterial do Caniço, mas principalmente uma festa onde homenageamos todos os homens e mulheres que com todo o empenho e dedicação, com suas mãos calosas do trabalho árduo que é o da Agricultura, produzem a melhor cebola da região!
Passamos de um formato feito em estúdio e gravado frente às câmaras, ao nosso palco, às nossas ruas, às nossas barracas de comes e bebes com os obrigatórios petiscos e pratos com a rainha da festa, a cebola. Voltamos à música ao vivo, aos brindes com copos de poncha (tão nossa), às gargalhadas entre amigos, às crianças nas correrias e tropelias pelo largo Pe. Lomelino, aos passos de dança espontâneos frente ao palco…. Queremos novamente a cebola exposta, o produtor e o produto promovido e valorizado, os stands e parceiros presentes, as nossas crianças e as nossas escolas a brilhar no Cortejo de domingo…
Esta Festa, além de tudo o que representou e continua a representar para a nossa comunidade, é o novo sinal de esperança, da recuperação de muitos momentos perdidos ou adaptados, é sentir o calor que nenhuma camara passa, é estar próximo fisicamente e não através de um ecrã ou de uma lente. É um símbolo da nova normalidade em que vivemos e onde aos poucos recuperamos o que deixamos em “banho-maria” durante dois anos.
A organização da festa faz-se numa ambiguidade que não nos deixa indiferentes. É a vontade de recuperar o evento e a necessidade de sentir que a segurança continua a ser a prioridade, que a vida continua a ser o maior bem a preservar, é viver e planear com o desafio constante de não falhar ao nosso povo, de não falhar aos nossos, de não nos falharmos!
E como não sou dada a futurologia, mas acredito piamente que não há como o povo do Caniço, aquele que tem o Caniço no coração quer seja nascido e criado na freguesia ou não, tenho a certeza que todos e cada um de nós, “Canicenses Caniceiros” devolveremos à nossa festa toda a sua pujança, a sua identidade, a sua particularidade. Que vestiremos as ruas com as gargalhadas de esperança em dias melhores, da curiosidade dos turistas e madeirenses de outras freguesias, de música no palco e nos caminhos, de bons momentos, de olhos nos olhos, mas acima de tudo, de responsabilidade pois fomos, somos e temos de continuar ativos no combate a esta pandemia que se esfuma, mas que ainda deixa a sua marca.
A Festa da Cebola ocorre entre os dias 20 e 22 de maio e o Caniço abre as portas a todos quantos nos queiram visitar trazendo em si a consciência de que também eles são responsáveis por esta nova realidade que se cria.
Viva a Freguesia, viva as suas gentes, viva o Agricultor, viva a Cebola!
Viva o Caniço que continua a mexer!
Mariusky G. Spínola