Renato Brito
Renato Brito
Eram sete e meia.
Já o barulho invadia a casa com mais força que a própria luz solar. Eram sete e trinta e cinco e já o telemóvel fazia “bip” umas cem-mil-vezes (já nem posso!).
Eram sete e quarenta e já voltava para a cama de novo.
Que correria!
A cada dia, uma nova quarentena é-nos imposta. Sempre. Constantemente!
É por causa do filho que nunca mais sai da escola; é por causa do dia de sol que não chega para irmos à praia; é por causa das férias que não chegam; é por causa do telemóvel que não para (e nem tem interesse nenhum); é por causa das filas de supermercado; é por causa do ordenado que não chega – é por causa de não ter causa –
É por causa do amigo que não ligamos, nem contactamos; é por causa do trabalho que nos cega em relações e é por causa de que nada nos salva.
A culpa é da quarentena!
Entre incertezas e suspiros esquecemos que sabemos esperar, que desde cedo tentam (e tentamos) ensinar a todas as crianças a arte de aguardar, o talento de ficar quieto quando não nos é favorável a nossa intervenção e o saber que, na verdade, tudo isto é magia. Vida!
-Colorida ou menos colorida-
E vai ficando tudo mais ou menos, bem, dizemos nós! Mas sem a tal paciência – resiliência! Cadê? Está de quarentena?
Alguém lembra-se de enviar a carta ao Pai Natal e esperar um ano inteiro? E quando tínhamos de esperar mais que um ano para que o presente fosse fabricado e chegasse ao destino? Alguém lembra-se de enviar a carta ao Pai Natal e o presente vinha trocado? Ou preso devido a “retenção de gastos” – Mas existe alguém que se lembre disto?
A culpa não era da quarentena! – Julgo eu. Era culpa do entendimento!
Hoje,
A cada dia, uma nova quarentena é-nos imposta.
Tampouco importa o motivo, o stress é o mesmo, a falta de entendimento continua enevoada, o discernimento continua na reserva e o sorriso, amplo como esse arco-íris que tanta gente pintou, apenas parecem ter cores(ou cara) de pau!
Há dias ouvi aquela expressão tão nossa, de tão nossa que até arrepia:
“Foi de repente ou estava doente?”
Tem cousa mais simples por aí!
E a culpa não é da quarentena!
-Vale a pena pensar nisso.