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Queridos tios

15 Novembro, 2018 às 10:16
Paula Noite

Paula Noite

Escrevo estas letras, para saber da vossa saúde. Por aqui estamos bem graças a Deus.

Apeteceu-me hoje escrever uma carta, como se fazia antes. Quando não vivíamos na era do click (em que estamos a um click de tudo – do mundo e dos outros). Quando a carta dava as novidades dos vizinhos, emanava sentimentos e emoções, havia envolvência.

As cartas escritas eram o único elo de ligação dos que ficavam com aqueles que partiam para a Venezuela, Curaçau, Canadá, África do Sul, Brasil…

Eram cartas dos amores e desamores, das dúvidas e das saudades. Notícias que tardavam, mas quando chegavam faziam bater os corações num ritmo alucinante, querendo saltar do peito quando abriam o envelope ou, no caso dos que não sabiam ler, enquanto não chegavam à casa de quem sabia decifrar as notícias que ali vinham. Muitas vezes acompanhadas de algumas notas para cobrir a despesa da mercearia. Porque estava no rol.

As cartas eram um elo à terra natal daqueles que, por motivos completamente alheios, incompreensíveis até, tiveram de partir para uma guerra colonial algures no continente africano. Para estes eram os aerogramas – a ligação dos soldados com as suas madrinhas de guerra. Moças que lhes contavam histórias da terra, que lhes faziam suportar o cenário de guerra infernal. Amenizar a perda do(s) companheiro(s), morto(s) em combate. Enfrentar o medo dum inimigo escondido e silencioso.  Cobertos de fadiga, recostados num tronco, sentindo o cheiro a terra molhada e vermelha, puxavam do bolso o aerograma, quase amarrotado, lido já vezes sem conta. E liam uma vez mais as palavras que lhes faziam renascer a esperança e não raras vezes despontar sentimentos mais profundos por quem as escrevia.

Por ter saudades das cartas, vou continuar a escrevê-las como antes. Começando por dar-vos as notícias do que vai acontecendo por estes lados.

As pessoas do sítio, depois de amassarem os bolos de milho do Pão-por-Deus, já pensavam no São Martinho. Já iam passando pela adega a ver se o vinho já estava claro porque “Pelo São Martinho, castanhas e vinho”.

Sabem? Ficamos um pouco baralhados. O Pão-por-Deus passou de mansinho, quase não demos por ele; veio de fora uma moda nova – o Halloween.

Vestem-se de bruxas e pintam-se (as caras ficam horríveis, metem medo!). Nem as abóboras escapam (é só desperdiçar!)! Fazem buracos em forma triangular para os olhos, boca e nariz e colocam dentro uma vela. À noite acendem-na e a luz trémula espalha sombras fantasmagóricas que causam arrepios.

À chegada mergulhámos num turbilhão de aromas, dos nossos aromas – espetada, bolo do caco, castanhas assadas, o adocicado dos licores de castanha e da ginja.

Não gosto muito disto, penso que devemos é preservar o que é nosso.

Efetivamente o São Martinho já não foi assim.

Fui à festa da castanha ao Curral das Freiras. A pé. Sim, não se admirem. A pé, leram bem. Fui com um grupo grande daqui de São Jorge. Entramos na Encumeada, em São Vicente, e envolvidos pelo nevoeiro, sob uma chuva miudinha lá fomos.

Metemo-nos na vereda e depois de muito andar, avistámos o Curral, numa altura em que o sol já brilhava, morno, fazendo reluzir um arco-íris que se estendia ao longo das montanhas.  Muito juntinhas pareciam tocar o céu, olhando lá do alto a freguesia aninhada na sua base.

Iniciámos a descida ladeada por castanheiros que ostentavam os seus frutos. No chão estendia-se um tapete de ouriços que mostravam as entranhas onde luziam as castanhas.

À chegada mergulhámos num turbilhão de aromas, dos nossos aromas – espetada, bolo do caco, castanhas assadas, o adocicado dos licores de castanha e da ginja.

De lá trouxemos as castanhas para o nosso São Martinho (este ano até não estavam muito caras).

O verão de São Martinho, uma vez mais apareceu. E todos começaram a fazer os preparativos para viver mais uma das nossas tradições.

Juntámos familiares e amigos à volta da fogueira, cantarolando quadras antigas e outras inventadas na hora. Assámos o bacalhau já temperado da véspera e as castanhas que estalavam na brasa. Tudo regado com vinho jaqué novo. Já não há muito, pois substituímos pelas castas novas, mas a latada do jaqué mantém-se. Para o tal copo em família.

Ainda sobrou para a Festa. A Festa que se aproxima a passos largos. E como é a altura de juntar a família, esperamos que nessa altura nos venham visitar. Marquem já as passagens, para que não fiquem muito mais caras.

Temos muitas saudades vossas e estamos ansiosos para recebê-los.

Despeço-me desejando que tudo vos corra pelo melhor.

Um grande abraço e até breve, se Deus quiser.

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