Ana Luísa Freitas
Ana Luísa Freitas
Quarta-feira, 1 de outubro de 1975… finalmente acordava para um dia tão esperado e ansiado! o meu primeiro dia de escola!
A curiosidade era insaciável e queria aprender e saber tudo! A escola era ali perto de casa, mesmo atrás da Igreja matriz.
Era uma escolinha de freiras, onde havia uma certa rigidez na educação, no ensino de tanta coisa, muitos TPC, e a religião obrigava a que rezássemos logo pela manhã.
Às 9:00h era quando tudo começava e às 16h terminava. Lembro-me como se fosse ontem…de chegar toda aprumadinha de bata branca, mochila às costas. Bata branca era a nossa farda, tanto para os meninos como para as meninas. Foi sempre assim naqueles primeiros 4 anos de escolaridade obrigatória.
As turmas eram grandes – pelo menos 25 alunos. Aquela indumentária preta e branca usada pelas freiras, que eram nossas professoras, metia um certo respeito. Ainda assisti a reguadas nos colegas mais distraídos ou com maiores dificuldades de aprendizagem. Tenho amizades desse tempo… meninos de coração de ouro que hoje são homens e mulheres íntegros.
1 de outubro, assinalava sempre o regresso às aulas, durante todo o meu percurso escolar, e mesmo nos primeiros anos em que comecei na docência.
Tinha 18 anos, a primeira vez que entrei numa sala de aula com a missão de professora. Escolhi Santana por ser a minha área de residência. Nessa altura, tive alunos – hoje muito conhecidos – como é o caso de Hélder Spínola (biólogo/investigador e político), Victor Freitas (político), entre outros…Não pude ficar o ano letivo completo, porque a entrada na faculdade gerou incompatibilidade. Foi um tempo marcado pela carência de professores em todas as áreas.
Pouco depois, regressei à Escola B+S Bispo Dom Manuel Ferreira Cabral (Santana) onde trabalhei 18 anos.
O estágio- esse – já foi no Liceu, Escola Secundária de Jaime Moniz, escola onde fiz o meu ensino secundário e onde me dei muito bem como aluna e como professora.
As paredes deste edifício – por si, só – ditam regras. No meu estágio profissional, tive a sorte de trabalhar com uma turma especial e empenhada que incluía alunos oriundos do Funchal, Santa Cruz, Machico, Caniçal, Porto Moniz e Santana.
Decorria o ano letivo 93/94 e até então não se ministrava ensino secundário fora da capital madeirense. Lembro-me das carinhas de todos!! Paulo Jardim, jornalista e diretor de informação da RTPm é o mais conhecido. Muitos dos outros são -também – excelentes profissionais. A relação Prof/alunos foi muito boa e ficámos todos a lucrar com isso. Sempre apostei nessa vertente… e hei de apostar! já que conquistando os alunos, cativando-os, evitam-se problemas de indisciplina e a maioria mais facilmente aprende os conteúdos programáticos.
Em Santana, a escola – muito dinâmica- permitiu-me abraçar vários projetos na área das Ciências da Terra e da Vida e deu-me asas para visitar e explorar outros Países/regiões, como por exemplo França, Itália, Lisboa, Açores… Nesta escola fui orientadora de estágio (científico pedagógico) com o biólogo/investigador, professor doutor Ruben Capela (Ex-Reitor da UMa).
Muitos alunos entraram em medicina ou áreas afins cujo acesso é difícil devido às médias altas exigidas. Facilitismo não houve, nem ninguém reclamou o grau de exigência. Entre milhares de alunos, Raquel Mendonça, de Santana, foi sem dúvida, a melhor! Acompanhei-a como professora de biologia durante os três anos do ensino secundário e teve média final de 20 valores (12ºano). A Raquel, uma referência de Excelência no percurso escolar, reunia um conjunto de capacidades incrível – responsabilidade, empenho, dedicação, inteligência, memorização, comunicação fluente, capacidade de concentração/atenção, aplicação/relação de conteúdos (de um ano para outro!), educação, respeito, tanta coisa… – entrou em medicina, curso que sempre ambicionou e hoje, é médica ginecologista em Lisboa.
Há mudanças quotidianas, que por vezes implicam mudanças de residência e de estabelecimento de ensino. Agora… volto pela 11ª vez à Escola Básica e Secundária de Santa Cruz, de onde faço parte do quadro.
Relaciono-me, naturalmente, muito bem com os meninos, e no ano anterior a trabalhar com várias turmas (aprox. 100 alunos), não atribuí nenhum nível negativo – assim, foi a primeira vez.
Temos que recomeçar! Custa quase sempre. Depois, entramos no ritmo…
Bom ano letivo!