Ricardo Catanho
Ricardo Catanho
Neste magnífico dia de Sol em que escrevo este texto o nosso vale parece ainda mais deslumbrante, situado no coração da Laurissilva. O verde intenso contrasta com o azul do céu e do mar.
Podemos nos sentir em verdadeira harmonia com a natureza; os pássaros também parecem gostar, pois têm passado o dia a chilrear; até as britadeiras ao longo da ribeira não estão a laborar, ao menos não fazem barulho. Claro está: esta poluição sonora, visual e ambiental, com a descarada conivência das autoridades locais, contrasta com aquilo que quero escrever – “São Vicente, o Vale das Flores”.
Agora que estamos chegando ao final de mais um Inverno, a aproximação da Primavera começa a se manifestar e vamos vendo rebentos de flores que começam a ser visíveis aqui e ali e, muito em breve, as cores e os cheiros vão estar presentes no nosso quotidiano. De forma natural, a mãe Natureza irá encher os vicentinos ainda de mais orgulho. Os que nos visitam, quem cá vem, mesmo em alturas onde não há festas, ficam na sua grande maioria maravilhados e, sinceramente, acho que este deslumbramento, este encantamento, está a ser subvalorizado e até mesmo esquecido…
Não conheço nenhuma iniciativa de quem gere os destinos da nossa terra que vá nesse sentido, exceptuando uns tapetes de flores que são realizados no centro da vila durante o período da Festa da Flor. O resto é um apagão total nesta matéria, mas não compensa aquilo que perdemos: o centro da nossa Vila tinha muitas flores e aos poucos essas mesmas flores foram desaparecendo, em alguns casos substituídos por betão e pedra. E, noutros casos, os vasos de flores, que engalanavam as ruas do centro histórico, também desapareceram, mas os vasos continuam…
Gostaria de ver, e penso que a generalidade dos vicentinos também, que, por exemplo, fosse lançado um desafio à população para participar num concurso, onde o título do mesmo seria “o jardim mais bonito” ou outro qualquer. E este desafio teria várias vertentes, mas a principal seria tornar ainda mais atractivo e belo este nosso vale.
Para dar início ao concurso, deveríamos fazer chegar uma carta informativa, com o conteúdo e objectivo da iniciativa, a todos os domicílios de São Vicente, para quem estivesse interessado participar. O desafio seria ‘muito simples’, muito simples entre aspas (simples compreender, complexo executar): quem aceitasse participar teria de cuidar do seu jardim de casa, e, esses mesmos jardins seriam sinalizados e fariam parte de um roteiro disponibilizado a locais e turistas para que estes pudessem percorrer o referido roteiro. Em cada Primavera haveria um júri que fosse conhecedor desta área para escolher os vencedores. O prémio seria monetário porque a manutenção de um jardim não é barata. As pessoas precisam e as Câmaras e as Juntas gastam dinheiro em tantas coisas, muitas delas questionáveis, porque não compensar financeiramente aqueles que melhor contribuem para embelezar a nossa terra.
Penso que esta iniciativa iria mobilizar a população por várias razões: um seria aquele, o que já existe – o orgulho que as pessoas têm em possuir um belo jardim; outro seria saber que estavam a contribuir para o embelezamento da sua terra, contribuindo assim para o aumento do número de visitantes e consequente aumento das oportunidades de negócio e crescimento económico da nossa terra; por último não podemos descartar a compensação financeira para os melhores, todos nós ficaríamos a ganhar.
Deixo aqui esta ideia. Uma ideia que não tem nada de original. Já é feita noutras regiões. A única diferença é que não se aproveita o que a Natureza nos oferece. O foco de interesse está concentrado noutro tipo de “iniciativas” e, enquanto isso, todo o concelho se torna cada vez mais um sítio de passagem, sem grandes iniciativas para os visitantes, infelizmente.