Rui Nélson
Rui Nélson
Um escorrimento de lava, proveniente de um vulcão com origem nas montanhas do Seixal, percorre o vale do Chão da Ribeira e entrelaça-se com os seixos do Oceano, nasce uma fajã de lava, os antepassados deram o nome de Seixal.
É uma freguesia d´água, porque tem floresta, onde as árvores dançam com as nuvens.
Vou escrever estas linhas sobre o Seixal, onde a fonte de inspiração, será a água brotada pelas fontes basálticas, água que perfura as montanhas, irriga desde a Calheta até Câmara de Lobos, passando pela Ponta de Sol e Ribeira Brava, como também o paradigma da utilização da montanha, inserida na cultura de um povo que trilhou o passado.
Seixal, a segunda maior freguesia da Madeira, maioritariamente coberta de floresta laurissilva, classificada pela Unesco de património mundial natural.
O vale do Chão da Ribeira, durante muitos anos foi o supermercado da Freguesia, a população vivia junto ao mar e deslocava-se a pé até este vale, agricultura e criação de gado era o sustento da Freguesia, os palheiros do Chão da Ribeira são a marca de um passado recente, em que todas as famílias tinham pelo menos uma vaca, não era só o leite e a carne como também e adubo para a fazenda.
Esta povoação do norte da Madeira, onde durante muitos anos a auto-suficiência fazia parte da imposta sobrevivência, quando não havia estradas para São Vicente e Porto Moniz, desenvolveu uma cultura própria, é esta cultura, a linguagem comum de um povo, que faz a sua diferenciação e é reconhecida globalmente.
O Seixal teve várias fases, sendo uma delas, a da cana doce, em que existiram 2 engenhos movidos a água, pena é que não tenha ficado nada deste legado, para memórias das gerações, pois, um povo evolui se respeitar o seu passado.
Em 1863 a água proveniente das exuberantes montanhas, abasteciam 3 moinhos na Freguesia, apenas restam o nome dos Sítios, Lombo do Moinho, Ladeira do Moinho e Fajã do Moinho na Ribeira Funda.
O Seixal produziu, em 1906, 315 quilos de tabaco. Foi a freguesia com maior produção da ilha nos ensaios feitos no período de 1906-1909.
O vinho continua a ser a principal fonte da economia do Seixal. Poderá dizer-se que esta freguesia cobria-se de vinha junto aos terrenos da beira-mar.
Com a doença nos vinhedos, colocou muitas famílias em apuros, apareceu uma espécie de milagre, a enxertia em jaquê, era a solução, uma vez que toda esta vinha ficava viçosa e produzia em quantidade, assim o jaqué generalizava-se no Seixal.
Actualmente a reconversão em vinhas de qualidade, proporcionou o aparecimento de vinhos de qualidade, que até já ganhou prémios no mercado nacional.
Não tenho dúvida, esta é a forma de valorizar o binómio agricultura /turismo, uma estratégia de combater o despovoamento e implementando a esperada economia verde.
Por falar em despovoamento, o Seixal perdeu a maioria da sua população, a falta de trabalho, a não ser cavar e carregar às costas levou todos a emigrar.
O Turismo, é umas das actividades económicas com maior dinamismo no mundo actual e vai chegando às zonas rurais, como uma grande oportunidade de desenvolvimento económico e valorização do património natural.
O crescimento da indústria do lazer e do bem-estar à escala mundial, leva-nos a mudar de paradigma, a montanha ao ser abandonada como meio de sobrevivência, entramos numa nova era, o lazer, não resta dúvidas, as coisas boas do passado com as coisas boas do presente são a solução para um futuro sustentável.
Entramos no circuito mundial da actividade de canyoning, pois, temos imensas cascatas inseridas na floresta laurissilva, sendo possível a sua pratica durante todo o ano, a proximidade da montanha com o mar, um dos fatores de diferenciação deste turista que nos procura.
Caminhando nas emblemáticas árvores do Fanal, descendo a encosta sobranceiro ao Seixal, acabar com umas piscinas naturais ou na praia do Calhau da Fonte, relaxar nas águas do mar, comer um arroz de lapas com peixe fresco e desfrutar do sossego da Freguesia do Seixal, epa, isto é vida.