Gilberto Garrido
Gilberto Garrido
Diz-se que nós somos de onde nascemos e/ou de onde vivemos. Para gostar de um lugar é preciso conhecê-lo. Só se gosta do que se conhece. Eu sou da Ponta do Pargo. Eu gosto da Ponta do Pargo.
A mim faz-me impressão quando se pergunta a alguém de onde é e a pessoa não diz o nome da sua freguesia.
– De onde é você, perguntam e o cidadão que é da Ponta do Pargo responde que é da Calheta, ou se é do Caniçal diz que é de Machico, por exemplo.
Devemos ter orgulho da nossa Terra. Eu tenho orgulho em ser da Ponta do Pargo. Eu tenho orgulho em ser da Madeira.
Nesse sentido tenho todo o gosto em partilhar com os leitores do Diário das Freguesias algumas informações sobre figuras ilustres da minha Freguesia.
O aprofundar desses conhecimentos provém de uma investigação feita por mim e pelos meus colegas de grupo, quando frequentei a Universidade da Madeira, na disciplina de Historia, tutelada pelo Professor Nelson Veríssimo.
Devido a extensão do documento esta matéria será publicada em várias partes, de acordo com o espaço que o Diário das Freguesias dispõe para o efeito.
França (Vasco Augusto de)
(1900 – 1985) Licenciado em Medicina e cirurgia, nasceu no sítio do Pedregal, Freguesia da Ponta do Pargo, Madeira, em 25 de Abril de 1900, sendo filho de Manuel Augusto França e de D. Silvana Vilhena da Castro e França, em t.º de Franças. Casou com D. Fernanda Maria Homem de Gouveia, em t.º de Pontes de Gouveia, s. g. Tirou curso do Liceu do Funchal depois do qual se matriculou na Faculdade de Medicina de Coimbra, onde se formou em 1926.
Quando estudante em Coimbra, fez um grupo de baixos do orfeão académico, tendo visitado, nessa altura, como orfeonista, a Espanha e a França, sob a regência respectivamente do Dr. Elias de Aguiar e Dr. António Joyce.
Logo depois da sua formatura, prestou serviços como médico de bordo dos emigrantes portugueses para a América do Norte. Na companhia francesa de navegação Faber Line viajou pelo mundo fora.
De regresso a sua terra natal, em 1929, foi nomeado médico municipal da Ponta do Pargo, onde prestou relevantes serviços clínicos ao povo do Concelho e muito particularmente ao das freguesias da Ponta do Pargo, Fajã da Ovelha, Prazeres, Paul do Mar, e mesmo até no concelho vizinho, Porto Moniz no tempo do governador Camacho de Freitas foi nomeado Presidente da Câmara Municipal da Calheta, sendo depois reconduzido. Desempenhou as suas funções com muita dedicação e proficiência, dotando o seu concelho com novos caminhos, de grande interesse público, e abastecido com água potável vários sítios que se encontravam muito mal servidos, sem fontanários públicos. Antes da electrificação geral da ilha da Madeira, já o doutor Vasco França tinha dotado a sua freguesia com uma central hidroeléctrica, destinada à eliminação particular, a força motriz do sítio do Pedregal.
Afora os seus afazeres profissionais, dedicava-se à apicultura e à música.
Ao completar os seus 80 anos, foi-lhe prestada uma homenagem pela Câmara Municipal, descerrando-lhe uma placa que dá o nome de Dr. Vasco Augusto de França a uma rua da Freguesia da Ponta do Pargo. Assistiram a essa homenagem os presidentes da Assembleia e Câmara Municipal, membros das respectivas autarquias do Concelho, vários médicos madeirenses e toda a população local. Faleceu na Ponta do Pargo a 2 de Janeiro de 1985, realizando-se o seu funeral para o cemitério daquela Localidade, para o jazigo de família no dia 3 de Janeiro de 1985. (in Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses sécs. XIX e XX de Luiz Peter Clode, edição Caixa Económica do Funchal, 1983, pp. 196-197)
Franco (Francisco)
Escultor, de seu nome completo Francisco Franco de Sousa, nasceu no Funchal, em 1885, a 9 de Outubro.
Segundo fontes consultadas na freguesia, poderia ter nascido na Ponta do Pargo, local de residência da família mas, à época do nascimento, teria vindo para o Hospital da Misericórdia do Funchal, em busca de assistência qualificada.
Célebre escultor madeirense, licenciado em Belas Artes, executou várias obras, fez várias exposições e participou em concursos, obtendo menções honrosas. Da sua obra destacam-se, na Madeira, os seguintes trabalhos:
– Estátuas – Infante D. Henrique, Gonçalves Zarco e o Semeador.
– Cabeças e Bustos – Henrique Vieira de Castro e Doutor Januário Figueira da Silva.
– Relevos – do Monumento a Gonçalves Zarco.
A Câmara Municipal do Funchal atribuiu-lhe a Medalha do ouro de Mérito do Município do Funchal.
Na Região existem dois edifícios em homenagem a este escultor: Escola Secundária Francisco Franco e Museu Henrique e Francisco Franco.
Faleceu em Lisboa a 15 de Fevereiro de 1955.
Gouveia (António Homem de)
(1869 – 1961) Cónego da Sé do Funchal, orador, professor, jornalista e poliglota, nasceu na freguesia da Ponta do Pargo, Sítio do Salão, em 15 de Dezembro de 1869, sendo filho de António Homem de Gouveia e de D. Josefina Maria de Gouveia, n. p. de António Homem de Gouveia e de D. Maria Antónia de Jesus, em t.º de Pontes de Gouveia, n.m. do morgado Manuel de Ponte de Gouveia e de D. Maria de Gouveia.
Cursou o seminário desta diocese e ordenou-se presbítero a 23 de Setembro de 1893. No princípio da sua carreira sacerdotal exerceu o papel de cura do Porto Santo, vigário da Boaventura, mestre de cerimónia da Sé Catedral, Capelão da Sé da Santa Casa da Misericórdia, sendo em 30 de Novembro de 1899, despachado por carta régia, cónego da Sé do Funchal. Desempenhou as funções de escrivão da Câmara Eclesiástica, inquiridor dos bens pontifícios, examinador pró-sinodal e exerceu diversas comissões de serviços públicos como sejam: o cargo de Presidente da Junta Geral do Distrito, deputado da Nação, nas sessões legislativas de 1905 a 1906, de 1906 a 1907, e provedor da Santa Casa da Misericórdia. Foi professor do Seminário, do Liceu e da Escola Industrial e Comercial do Funchal, e funcionário do Museu Municipal. Em 1952 ofereceu à Junta Geral (biblioteca da estação agrária) algumas obras valiosas sobre assuntos da história natural do nosso arquipélago.
Foi um dos poliglotas mais distintos da Madeira, falando correctamente várias línguas, nomeadamente a Espanhola, a Italiana, a Francesa, a Inglesa e a Alemã.
No campo literário, os assuntos que preferia versar eram. Estudos Sociais, Religiosos e Políticos.
Foi um dos fundadores do primeiro Diário Católico do Funchal “O Correio do Funchal”.
Como jornalista, colaborou em vários jornais, sustentando várias polémicas que despertaram grande interesse. Proferiu várias conferências nesta cidade. Foi capelão e amigo do ex-Imperador Carlos da Áustria, e de sua mulher, a Imperatriz Zita, quando os antigos soberanos viveram exilados com seus filhos na Madeira, após a primeira Grande Guerra Mundial (1914 – 1918).
Escreveu e publicou: “A Escravidão da Igreja em Portugal”, discurso proferido na câmara dos deputados na sessão de 5 de Maio de 1905. “Necessidade do descanso dominical”, discurso proferido na Câmara dos Deputados na sessão de 6 de Fevereiro de 1907. “A Situação da Madeira” discurso proferido na câmara dos deputados na sessão de 19 de Fevereiro de 1907. “O Imperador Carlos”, Lisboa, 1922. Possuía a seguinte condecoração: “Proeclesia et Pontífice” pela Santa Sé. Faleceu no Funchal, no dia 29 de Julho de 1961 com 91 anos de idade. (in Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses sécs. XIX e XX de Luiz Peter Clode, edição Caixa Económica do Funchal, 1983, pp. 240-241)