A Casa do Artista, também conhecida como Solar S. Cristóvão, existente no sítio do Caramanchão, Machico, apesar de ter passado a funcionar segundo novas regras, conforme determina a Resolução nº 121/2013 do Conselho do Governo, nunca teve qualquer procura e preocupa os agentes culturais locais.
A Casa do Artista, foi criada em 2000 no Solar Carlos Cristóvão, também designado por Solar S. Cristóvão, “com a finalidade de servir de residência temporária a reconhecidas personalidades do mundo da Cultura, que, por um certo período de tempo, pretendam ali desenvolver alguma das vertentes da criação artística, ficando o nome da Madeira de algum modo ligado ao objecto dessas criações”, reza o texto da Resolução.
Porém, o Governo Regional refere que o imóvel em causa, para além de residência temporária de artistas, “tem sido solicitado pela comunidade em geral para a realização de eventos culturais, sociais, religiosos e outros”, e entende que “tais solicitações merecem ser atendidas”, além de constituírem uma forma de “rentabilizar o imóvel e as suas potencialidades”. Assim, foi decidido que o dito imóvel, por uma questão de uniformização, passa a ser simplesmente designado por Solar S. Cristóvão; e que o mesmo pode ser utilizado ou cedido temporariamente para a realização dos já citados eventos culturais, sociais, religiosos e outros que sejam adequados ao imóvel e à utilização de um bem público.
A utilização do Solar S. Cristóvão será estabelecida por regulamento a aprovar por despacho normativo da Secretária Regional da Cultura, Turismo e Transportes, e “terá contrapartida, pecuniária ou não, a fixar nos termos legais aplicáveis”. Por outro lado, foi revogada a Resolução nº 226/2000, de 17 de Fevereiro de 2000, publicada no JORAM, I Série, nº 15, de 2000/02/21, que aprovou o Regulamento de Funcionamento da Casa do Artista.
O Solar tem uma capela e costuma ser solicitado pela paróquia do Piquinho para a realização da festa do S. Cristóvão, padroeiro dos motoristas, e, de quando em vez, é também pedido para a realização de casamentos. Aparentemente, a intenção do Governo era passar a cobrar (ou não, como se lê) para o ceder para tais actividades ou quejandas.
Enquanto Casa do Artista, o espaço nunca foi alvo de uma utilização intensiva, embora tenham por ali passado vários criadores e/ou académicos, como Annabela Rita, docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, directora do CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias), presidente da APT (Associação Portuguesa de Tradutores) e administradora do OLP (Observatório da Língua Portuguesa; o musicólogo Manuel Morais; Wilhelm Hemecker, director do ‘Instituto Ludwig Boltzmann’, de Viena – entidade que reúne um leque de especialistas dedicados à história e teoria da biografia, e que ali preparou uma biografia do autor Hugo von Hoffmansthal; Steffen Dix, académico germânico; Valentin Oman, artista austríaco; o artista italiano Alberto Schiavi; ou o autor de literatura de viagens, Gonçalo Cadilhe.
Na realidade, foi este último que mais marcou a Casa do Artista, e que a catapultou para as atenções nacionais. É que Cadilhe, conforme demos conta em 2006, estava tranquilamente alojado na Casa do Artista, espaço sob tutela da DRAC, no qual ultimava um novo livro, quando foi surpreendido por um bilhete deixado pela empregada de limpeza, comunicando-lhe que deveria abandonar as instalações, mudando-se para um hotel da Calheta, a expensas do Governo Regional.
O facto de Gonçalo Cadilhe ter estranhado aquele tratamento, quando a sua estada tinha sido combinada e estabelecida previamente com a DRAC, e dele dado conta ao DIÁRIO, culminou numa situação de mal-estar, com o Governo a recusar-se a dizer o que teria sido tão importante, para assim desalojar Cadilhe. Depois, Alberto João Jardim assumiu ter solicitado a Casa para ali celebrar o seu aniversário…
Novo rumo procura-se para este imóvel museológico da RAM.