Jaime Gomes
Jaime Gomes
Longe do bulício do Funchal, das suas ruas entupidas de carros e de obras existem outras ruas, ruas sem carros, poluição, ou obras… Longe das ruas faustosamente decoradas para o Natal e fim de ano, existem outras ruas, calmas tranquilas e vazias… ávidas de gente, de bulício e agitação.
Longe dos grandes hotéis apinhados de turistas do Funchal, existem mais hotéis e a lutar constantemente para por vezes, terem ocupação mínima que lhes permita manter portas abertas e pagar funcionários. Se os tomadores de decisões, não compreenderem esta realidade que se desdobra em duas, e as suas decisões não forem de encontro a essa dualidade os problemas que agora se avizinham podem no meu entender ter duras consequências para o turismo no Norte da nossa querida ilha.
Já tive oportunidade de neste espaço, contribuir com a minha modesta opinião, sobre o tema do turismo no Norte. É fácil salientar todo o que temos de bom, o verde, a paisagem, as gentes afáveis e a sua cultura, não é, tão fácil apontar o que nos faz menos fortes. O que mesmo dentro do panorama regional nos faz perder turistas.
Tenho conversado com empresários que investiram o seu dinheiro no nosso concelho. Todos se lamentam porque dizem sentir um abaixamento na procura…mas a todos um sentimento comum, temos um dos melhores produtos na ilha. Quem vem, se estava planeado ficar 3 dias acaba por ficar mais um ou dois. A qualidade dos nossos alojamentos e dos nossos restaurantes é evidente e marca a diferença.
Existe hoje, a perceção em quase todos os empresários do ramo que é bom investir na qualidade, que a diferenciação do produto pela qualidade compensa e atraí clientes. Começa a existir também visão de explorar nicos de mercados que vão surgindo, como sejam os trails, a saúde e bem estar físico e mental, enfim as possibilidades são muitas e não se esgotam numa linha de texto.
Um dia destes, num café da nossa terra, ouvi um trabalhador do ramo da hotelaria se queixar, estamos a 20 do mês e ainda não recebi o salário do mês passado…estava visivelmente triste e preocupado. Tenho contas para pagar, os filhos na escola…e lá surgiu uma emoção escondida, tristeza e desalento.
Senti-me incomodado, triste, aborrecido e finalmente profundamente furioso, porque esta situação não devia acontecer. Que injustiça tão grande…quem trabalha merece o seu salário a tempo e horas. Aquele funcionário teve de se levantar bem cedo na manhã. Quando muitos de nós dá mais uma volta na cama, ele levantou-se e foi trabalhar…enfrentado o frio da manhã. Uma realidade a refletir por todos os que tomam decisões, aqueles que fazem a gestão diária de investimentos turísticos, enfim todos os que de uma forma ou de outra são intervenientes no sector do turismo, mesmo que às vezes pareça nada terem a dizer sobre o assunto.
Numa terra de verdes profundos e com o Natal à porta é importante considerar que por vezes nem todo corre bem e existem problemas. Que é preciso pensar o turismo não como um dado adquirido, mas como uma oportunidade que se trabalha no dia-á-dia, que se conquista todos os dias, e que consolida com a qualidade demonstrada do nosso produto. Qualidade que depende em muito do trabalho e empenho desses trabalhadores, eles são o rosto visível da nossa terra a par das paisagens deslumbrantes e da nossa cultura única.