Dinarte Melim Velosa
Dinarte Melim Velosa
A notícia de que a direcção do Portosantense renunciou à participação no Campeonato de Portugal de futebol (apesar de ter feito a inscrição) por não ter conseguido reunir apoio financeiro do Governo Regional para suportar a logística mínima necessária (viagens, alojamento e alimentação de atletas e treinadores) inerente à competição nacional é mais um sinal inequívoco de que o desporto no Porto Santo vive tempos de incerteza.
Uma realidade que nada teria de surpreendente, até porque no plano desportivo a equipa não conquistou esse direito, havendo aceitado o convite da Associação de Futebol da Madeira a ocupar a vaga após recusa dos dois primeiros classificados da época transacta.
Mas a mesma também é sinónimo de que apesar de ter sido constituída uma SAD (Sociedade Anónima Desportiva) detida maioritariamente por um investidor nigeriano (que à época nas ‘parangonas’ dos jornais regionais e com ecos nos diários ditos desportivos nacionais, não se coibiu de prometer levar o futebol sénior masculino às ligas profissionais afiançando um forte investimento na reabilitação das infra-estruturas de apoio à modalidade) a dependência do erário público permanece.
Como o investidor, alegadamente, não cumpre com o prometido e na torneira dos fundos públicos jorra muito menos euros que em tempos passados, o clube não teve outra opção senão a manutenção na Divisão de Honra Regional, que dado o cariz geográfico de o Porto Santo ser o único concelho da região que também é uma ilha, não deixa de acarretar para o clube um esforço financeiro considerável do ponto de vista logístico, embora consideravelmente menor que nas competições nacionais.
Acresce que em Janeiro sistematicamente assiste-se a uma forçada ‘pausa de inverno’ dadas as restrições impostas pela falta lugares suficientes no transporte inter-ilhas para as dezenas de atletas e treinadores de todos os escalões das diferentes modalidades que se praticam no Porto Santo.
Um outro sinal de incerteza prende-se com as eleições (agendadas para o final do mês) no Sporting do Porto Santo. O histórico líder do clube anunciou antecipadamente que devido ao cansaço acumulado de anos a fio a lutar contra as dificuldades terminaria o seu mandato e não se recandidataria.
Não está ainda afastado o cenário de findos os prazos, não existir quaisquer candidaturas formalizadas aos corpos sociais, atirando o clube para um hipotético vazio directivo. É desejável que tal conjectura não se concretize e que se viabilize uma solução, até porque o clube com poucos recursos financeiros tem desenvolvido um interessante trabalho nas modalidades de futsal (em que as equipas de formação têm vindo sucessivamente a conquistar títulos regionais) e no hóquei em patins (modalidade outrora rainha na ilha com equipas masculinas e femininas no principal escalão em Portugal) que recomeça aos poucos a apresentar resultados, mérito essencialmente da ‘carolice’ de pais e ex-atletas da modalidade que transmitem aos novos praticantes a raça, a determinação e a competitividade que somadas à qualidade inata dos jovens porto-santenses para a modalidade fazem augurar a médio prazo o ressurgimento de uma equipa sénior (espera-se sem os excessos do passado).
Os exemplos acima expostos espelham que a política desportiva local, mas também a regional, está assente num modelo de financiamento (quase em exclusivo) de cariz público (com sucessivos atrasos nos pagamentos contratualizados que dificultam o dia-a-dia dos clubes) e que nos dias de hoje está completamente esgotado. É indesmentível que no tempo do ‘dinheiro fácil’ houve a visão e a aposta clara do poder político em dotar o Porto Santo de equipamentos desportivos, de que são exemplo o campo de golfe, o complexo de ténis ou o pavilhão multidesportivo, entre outros.
Agora, está por percorrer o caminho que conduza à dinamização desses espaços, por isso urge, pois, mudar o paradigma e pugnar por um associativismo militante, não demitindo os poderes públicos (Município e Governo Regional) de comparticipar nas ajudas de custo com deslocações e estadias das camadas jovens das modalidades que os clubes oferecem e que significam, na prática, a prossecução das políticas de juventude que caberiam ao Estado desenvolver como forma de combate à alienação e sedentarismo vigentes nas sociedades tidas por modernas.
Por este prisma não é pois despiciendo relembrar, embora reconheça as dificuldades financeiras da autarquia local, que em 2018 o Município faltou na ajuda à participação de jovens porto-santenses nos campeonatos nacionais de ginástica, alegando falta de dotação orçamental, reiterando essa falta no apoio à participação de uma selecção do escalão sub-14 que iria representar o Porto Santo no torneio intermunicípios de futebol.
Pelo contrário há que assumir sem quaisquer equívocos que é um dever público, em nome da comunidade, proporcionar aos nossos jovens a oportunidade de pela prática desportiva se formarem enquanto homens e mulheres (em política Juventude e Desporto são pelouros que andam sempre de mãos dadas) cidadãos do amanhã, até porque um concelho que não investe na sua juventude é um concelho sem futuro. É pois uma questão de resiliência.