A Junta de Freguesia da Fajã da Ovelha está a utilizar glifosato para matar as ervas daninhas que impedem uma boa circulação pedonal nas veredas e ruas da localidade, uma situação que está a levantar fortes protestos nalguns pontos da localidade justamente pelo facto de os critérios de segurança ambiental e de protecção pessoal não estarem a ser cumpridos pela Junta.
O presidente da autarquia fajã-ovelhense admite que “uma equipa de cinco” colaboradores está a usar herbicida (Montana) “sem equipamento” apenas em “algumas veredas”, no entanto fica surpreendido quando toma conhecimento pelo DIÁRIO que o produto tóxico também está a ser usado perto de levadas que transportam água e a escassos metros dos palheiros com animais no seu interior.
Isso mesmo pode ser comprovado pelas canas com mato na extremidade que a equipa coloca ao longo do trajecto, uma informação que fica longe de ser a mais adequada e esclarecedora, sobretudo para crianças, mas que a população mais idosa facilmente descortina que foi vaporizado o veneno e que devem manter-se afastados.
“Está? Não sabia! Certamente se o fizeram, foi porque a população pediu”, expressa o centrista admirado, mas rapidamente Gabriel Neto tenta minimizar aquilo que os fregueses dizem ser uma “irresponsabilidade”.
Gabriel Neto defende-se: “A verdade é que a população pede-nos que façamos as limpezas nas veredas e nos caminhos, mas não temos meios, nem humanos e nem de maquinaria, para acudir a tanto trabalho. Nalguns casos até nos pedem para deitar mais”, observa.
O autarca diz que ontem o uso de glifosato já não estava a ser aplicado e que a quantidade vaporizada não ultrapassou os 15 litros dissolvidos abaixo das proporções recomendadas para não contaminar em demasia o meio ambiente.
É na agricultura que o glifosato é mais usado. O herbicida foi inventado nos anos 70, pela multinacional americana Monsanto. Hoje em dia, só em Portugal, há mais de 20 marcas que comercializam glifosato. É um herbicida total, não selectivo – o que quer dizer que mata qualquer tipo de planta.
O alerta sobre os perigos do herbicida soou a mais de mil de quilómetros de Portugal, em França. A Organização Mundial de Saúde, através da Agência Internacional de Investigação para o Cancro, estudou o glifosato durante um ano. Dezassete investigadores tomaram uma decisão unânime: classificar o glifosato como potencialmente cancerígeno podendo entrar no corpo humano através da ingestão de água e alimentos ou da inalação.
O que é o glifosato?
Entre 2016 e 2017, foram elaborados quatro relatórios por várias instituições. O primeiro – da Agência Internacional para a Investigação do Cancro, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e publicado em Março de 2015 – considerou o glifosato um herbicida genotóxico (com efeitos negativos para o ADN) e “provavelmente” carcinogénico, o que contribuiu para alimentar os protestos de alguns países e de grupos ambientalistas.
Os outros três relatórios concluíram, contudo, que é pouco provável que o glifosato provoque cancro nas pessoas. Um destes últimos relatórios incluía entre os autores a OMS. Por isso, a OMS alertou para o facto de os vários relatórios parecerem contradizer-se, mas que, na verdade, são complementares: o glifosato pode ser perigoso, mas não representa necessariamente um risco para a saúde.
A diferença entre perigo e risco foi explicada pela OMS em Maio de 2016: um produto químico pode ser perigoso em si mesmo, mas representar um risco mínimo para a saúde das pessoas tendo em conta a exposição a ele a que estão sujeitas, devido, por exemplo, à sua ocupação profissional, ao ambiente ou à comida.