É uma promessa com 20 anos aquilo de que mais se fala na freguesia dos Canhas, quando questionada a população sobre o que faz falta: a via expresso entre a Ponta do Sol e os próprios Canhas. Mas há reivindicações novas e uma realidade diferente da que constatámos há alguns anos.
Nas novas reivindicações, ganha destaque o pedido de um supermercado grande, um hotel na freguesia e o regresso de pelo menos um balcão de um banco. Mas estas são as grandes reivindicações, que não dispensam as mais modestas, como as pequenas acessibilidades e até maior celeridade nas respostas da Câmara Municipal, quando solicitada a prestar serviços, em especial, licenças ligadas ao urbanismo.
A reivindicação da via expresso foi-nos transmitida, essencialmente, pela população mais jovem, aquela que, eventualmente, se desloca mais para fora da freguesia e, por isso, mais sente os constrangimentos da actual estrada.
De facto, uma via expresso para ligar os Canhas à sede de concelho é uma promessa do Governo Regional com 20 anos. Já teve várias versões, que passaram pelo alargamento e correcção de traçado da velhinha estrada regional, à construção de um túnel, já com duas versões. Mas o melhor até agora concretizado foi o melhoramento da via existente.
A desconfiança é tal que no Sol Café, na conhecida recta dos Canhas, há quem pense que vai morrer e não ver a via construída. Rufino, no Café até pede mais. Diz que já não chega a via expresso para os Canhas, há que resolver os constrangimentos na via entre a Ribeira Brava e a Calheta.
É ele quem, apoiado por alguns dos presentes e entre a cozedura de mais uma fornada de pão, vai lembrado que a freguesia tem registado uma grande procura por parte de turistas, mas que não conta com nenhuma unidade e hoteleira e, garante, faz falta. Rufino do Sol Café relata-nos que há turistas a chegarem e a perguntarem por uma unidade hoteleira, o que não pode indicar, por inexistir.
De facto, percorrer a freguesia permite verificar o crescimento do número de estrangeiros visitantes, residentes e/ou proprietários de habitações. Nas proximidades da igreja, onde o padre António Paulo edificou um miradouro na torre, foi possível vermos vários a passearem, uns sós, outros com um animal de companhia.
Abaixo, encontrámos Maria Virgínia, que, aos 85 anos e depois de algumas quedas, subia a custo mais de 70 degraus até à estrada. Explicou-nos que era para fortalecer os músculos, de suporte ao joelho. Até agora não conseguiu a fisioterapia. Para esta habitante, ter fisioterapia é o maior desejo, mas não deixa de ver o que se passa à sua volta e como a freguesia evolui.
Também ela constata o aumento do número de estrangeiros, que vão comprado casas. “Olhe, aquelas duas que parecem capelas, são de ingleses”.
Com casas que parecem capelas e junto à igreja, poderiam ser presença assídua no culto católico local. Mas não. Maria Virgínia, que vai à missa uma vez por semana, não vê estrangeiros na missa. Mas, quando há festas, ei-los a marcarem presença e a se voluntariarem para trabalharem na preparação dos eventos.
Maria Virgínia também constata que é cada vez mais difícil encontrar quem queira trabalhar a terra e lembra os tempos quem que ela própria o fazia, depois de tratar da alimentação dos seus sete filhos e de ter bordado telas à noite. Agora, afiança, já há quem peça até 100 euros por dia.
Idêntica constatação, no que respeita a estrangeiros, ouvimos em Santa Tereza, no centro do Canhas. “Alguns têm casa, mas é só para férias”.
Dali, seguimos em direcção ao Carvalhal, parando pelo caminho, às portas do Parque Industrial. Uma infra-estrutura sem qualquer unidade empresarial instalada, de portas fechadas a cadeado e que serve apenas para pasto de vacas.
Nas proximidades, Juliana Agrela foi uma das pessoas que manifestaram o desejo de concretização da via expresso ou, no mínimo, de melhoria nas condições da actual estrada. “Se apanhamos um camião, vamos atrás até à Ponta do Sol.”
Foi uma das pessoas que lamentaram a saídas dos dois balções bancários, ainda que tenham ficado caixas Multibanco. Juliana Agrela também manifestou o desejo da existência de um grande supermercado na freguesia. Só existem minimercados, alguns “são mesmo mini”.
Seguimos, então, mesmo até ao Carvalhal, junto à Praceta das Eiras. Um local muito calmo, com apenas alguns anciãos na rua e a fugirem do sol escaldante. Aceitaram falar ao DIÁRIO, mas sem nomes ou preferências partidárias. Ainda assim, uns disseram que o PSD vai ganhar as eleições, mas outros discordaram porque “ele (Rui Marques) não deixou boas recordações”.
Ali, como noutros locais da freguesia, o tema eleições autárquicas ainda é algo distante, preferindo as pessoas falar do dia-a-dia, dos preços dos bens essenciais, que não param de subir, ou até dos desgostos que os familiares lhes vão dando, muito por culpa de alguns vícios.
Residentes – INE 2021: 3.769
N.º de agregados – INE 2021: 1.844
Eleitores – Dezembro de 2024: 4.387 nacionais; 2 Eu; 3 ER
Resultados nas últimas autárquicas – Câmara Municipal: