Campanário, onde a mudança também acontece

Micaela Neto

Apesar de não ser natural desta freguesia, nem sequer do seu concelho, sinto e vivo esta terra como sendo minha.

Desde sempre me senti bem-vinda, fui e sou bem acolhida, respeitada, valorizada e por vezes até demais, mimada (se é que podemos considerar mimos, alguma vez excessos). Trabalhando nesta terra, há quase duas décadas (melhor dizer assim para não denunciar a idade), sinto já algum à vontade para poder falar e dar a minha opinião acerca desta gente e sendo eu uma pessoa desde sempre ligada ao exercício, é nesta área que posso mais facilmente opinar.

Se a atividade física, encarada e realizada de forma regular, consistente e orientada, apenas nos últimos anos tem passado a ser para muitas pessoas uma realidade, o mesmo também tem acontecido de forma mais evidente partindo dos meios mais urbanos para os mais rurais, já que é nos meios urbanos que se concentram normalmente maior quantidade de recursos, humanos e materiais e nos quais muitas vezes os investimentos ao nível de estratégias promocionais e de acção, são também superiores. No entanto, posso com orgulho dizer, que esta realidade tem sido vivida por uma percentagem considerável da população de Campanário, há já muitos anos.

Comecei com meia dúzia de pessoas (e acho que eram mesmo 6 senhoras) nas aulas de ginástica, de idades que distanciavam mais de 50 anos, num espaço que não o ideal, com condições que nada têm que ver com a realidade atual e com perspectivas acerca do exercício muito diferentes das de hoje em dia, mas desde sempre com a minha crença de que esse era o caminho certo e que tudo ia ser diferente em pouco tempo.

É gratificante olhar para muitas das pessoas que hoje estão nas nossas turmas de ginástica e ver que estamos juntas desde há tanto tempo e que vamos envelhecendo em conjunto, vamos partilhando o treino, mas mais que tudo a vida.

Na altura, o que era minimamente certo e aceitável, era caminhar, mas ainda assim melhor que fosse de noite, porque as más-línguas falavam e apesar de no final as participantes se sentirem bem, isto não justificava a “boca” jocosa da vizinha no dia seguinte, por isso à noite sempre imperava a discrição.

Foram realmente, inovadoras e corajosas estas iniciantes no exercício físico regular em Campanário, mas a minha crença estava certa e a verdade é que nestes últimos 20 anos, o número de participantes ativos e regulares na Associação Desportiva do Campanário, nas suas diversas actividades, entre Ginástica, Natação, Caminhadas, mais novos e mais velhos, subiu exponencialmente, podendo contar com centenas de praticantes.

É gratificante olhar para muitas das pessoas que hoje estão nas nossas turmas de ginástica e ver que estamos juntas desde há tanto tempo e que vamos envelhecendo em conjunto, vamos partilhando o treino, mas mais que tudo a vida. Registou-se uma mudança incrível de mentalidades e atualmente, a população de Campanário está desperta para a importância de se mexer, de fazer mais pela sua saúde e ser responsável por si. Neste momento, quem não pratica, já se sente mal por não o fazer, ao contrário do que antes sucedia, em que quem praticava, tinha vergonha de assumir.

Atualmente, Campanário é uma freguesia ativa, que tem recursos para assim o ser e acima de tudo, que tem vontade de continuar a fazer mais por si. A missão continua e enquanto houver em casa, pessoas que não façam exercício regular, tudo faremos para ajudar a mudar para um estilo de vida ativo e saudável e quem sabe, ser a freguesia mais ativa da região.