Ricardo Catanho
Ricardo Catanho
“Nos últimos 50 anos o norte perdeu cerca de 50% da população”, estamos a falar de uma redução da população de 10% à década…
Este cenário deve fazer refletir toda as pessoas, de todos os quadrantes políticos. É um desafio para todos, um desafio difícil, muito difícil, mas sinceramente é um daqueles desafios que me fascinam, não só pela complexidade das soluções, mas também por ser uma realidade para mim, que cá vivo.
O Norte também tem pessoas, e esta população tem que ter os mesmos direitos e oportunidades de alguém que viva em meios urbanos.
Conceber a felicidade adaptada aos bens de consumo e a maior facilidade no acesso a estes é muito redutor, devemos começar por reforçar a ideia que também podemos ser felizes no meio rural, isto numa análise mais antropológica das sociedades atuais, embora do ponto de vista teórico tal fator seja mais fácil de evidenciar, já no plano mais prático as dificuldades aumentam de forma exponencial.
Senão vejamos: nos últimos tempos, na freguesia de São Vicente, assistimos primeiro ao fecho de algum comércio tradicional e depois começamos também a assistir à deslocalização de empresas e instituições – o que, de forma direta ou indireta, veio a dificultar a vida de todos os residentes, nomeadamente, com o encerramento de bancos, do tribunal, dos correios e de escolas. Este fato tem uma consequência real, que se traduz no referido acréscimo da desertificação, à razão de 10% a cada década. Além do mais, constatamos que o número de óbitos e a emigração da população ativa, não está a ser compensada pelos nascimentos. A continuarmos assim, a este ritmo alucinante, como será o Norte e, neste caso, São Vicente daqui a 50 anos?
O grande desafio para o norte, para quem tem responsabilidades políticas é travar esta desertificação.
O que assistimos até agora não é certamente o caminho. No pós 25 de Abril e com a conquista da Autonomia politica, as medidas implementadas a norte pelo governo regional revelaram-se desastrosas, os números não mentem. Mesmo com a construção da excelente rede viária que dispomos, esta acabou por ter um resultado perverso acelerando o êxodo rural. Quanto à administração local, “idem aspas”: a atual governação camarária tem uma postura onde o principal objetivo resume-se a ganhar votos e eleições…
As medidas a tomar para tentar inverter esta realidade, não têm efeitos imediatos e são tudo menos eleitoralistas, o que desde já não se coaduna com a agenda do poder vigente no Concelho.
O norte está a ceder à desertificação e as soluções podem ser muitas. No entanto, é fundamental debate-las com especialistas nos diferentes domínios, analisar e preparar um plano concertado e abrangente para o futuro do norte da Madeira.
Podemos falar de uma medida do Governo Regional implementando um regime fiscal favorável à fixação de pessoas e estímulos aos empresários, bem como a deslocação de alguns serviços regionais para o norte, no entanto, é insuficiente…
A realidade económica do norte da ilha assenta primordialmente numa agricultura de subsistência, sem capacidade de escala produtiva e sem grandes perspetivas económicas. Até podem ser explorados certos nichos, mas tal não será o suficiente para dar uma solução satisfatória.
Como se pode tornar mais eficiente uma agricultura de subsistência, que se rege pelas mesmas regras aplicadas em meios urbanos, com realidades completamente diferentes?
A carga burocrática e os excessos legislativos são, na maioria das vezes, incompatíveis com aquilo que se passa no terreno. Nesse sentido, sou da opinião que se devem aligeirar as imposições à agricultura e aos agricultores do norte, considerando a realidade e as especificidades dos espaços rurais e, então, a partir daí teremos um bom ponto de partida para este enorme desafio.