António Trindade
António Trindade
Todos nós sabemos dos efeitos nefastos da diminuição da população, em especial nas zonas rurais.
Mesmo que nem todos reconheçam, é, de facto, muito difícil dinamizar as localidades com ações que potenciem a projeção local e a melhoria de qualidade de vida, tendo, no entanto, as dificuldades acrescidas quando, se trata de terras desertificadas.
Felizmente há mais vida além do que para muitos representa o “fim do mundo”, e há quem contribua para inverter esses retratos mal tirados. Mas confesso que este preconceito com estas localidades fere o orgulho de quem sente de alma as suas vivências e lá trabalha. Com estas atitudes derrotistas e irrealistas assim não avançamos, antes regredimos, porque, para os mesmos resultados, precisamos do dobro do empenho, mais o esforço de desmistificar o outro lado da história.
Seria bom que Todos contribuíssemos para as oportunidades do mundo rural, dando foco ao que está para melhorar, mas que, simultaneamente, se apostasse em elevar os projetos que já existem e as potencialidades de cada território.
Falo a propósito de opiniões públicas “sensacionalistas” sempre que se fala sobre a freguesia da Ilha. Respeito, e até consigo perceber o objetivo subjacente das mesmas, no entanto considero que não são retratos fidedignos da realidade local. Friso porque sei bem o que as instituições e a população local têm trabalhado para dignificar e “alavancar” a freguesia rumo ao desenvolvimento como polo atrativo numa região tão virada para o turismo como é a Madeira, dando a conhecer as nossas tradições. Realço porque sei bem o que é inverter as tendências. Agora, uma coisa é certa, há uma diferença abismal entre a Ilha dos anos 70 e a Ilha dos dias de hoje, e só não vê quem não quer ver.
De facto, existem limitações, mas hoje em dia há condições de apoio à população que em nenhuma altura da história existiram, algumas até desejáveis e inexistentes em locais mais populosos da nossa Madeira. Tem infraestruturas de excelência, com um centro cívico com excelentes condições para a atividade cultural, social, religiosa e com os serviços de apoio básico à população. Toda a população pode beneficiar dos serviços e das instituições locais, como são os casos dos espaços de Internet, os grupos culturais, o centro de convívio, para não falar dos eventos realizados anualmente e que projetam a freguesia, como são os casos da Exposição do Limão, o Dia do Emigrante e a Semana Cultural. A Ilha é uma localidade com excelentes indicadores de qualidade de vida: É segura, saudável, com serviços adequados à população e com uma enorme riqueza natural.
Hoje, a ilha tem acessibilidades que competem com outras localidades desenvolvidas da Europa, tem trilhos e veredas únicos e uma beleza inigualável. Hoje, fruto do trabalho de valorização das tradições e dos saberes locais a Ilha tem potencial para se distinguir no campo do património imaterial.
Na realidade o que se precisa para inverter a tendência são investimentos, são iniciativas para que o turismo crie valor na economia local, são medidas verdadeiramente diferenciadoras e atrativas para fomentar negócios e a fixação de pessoas.
Agora o raciocínio que desfio é o seguinte: se já é tão difícil projetar a localidade, torná-la dinâmica e atrativa, se porventura um investidor ou um turista chegasse agora à Madeira e tomasse conta do que por vezes se retrata, será que considerava a hipótese de investir e apostar na Ilha?
Afinal o que estamos a fazer? O que estamos a contribuir? Que valor acrescentado trazem as opiniões que só fazem ruído? Que oportunidades estamos a despoletar?
O desafio passa por apontar modelos de investimento, protótipos de unidades de turismo rural, uma visão de desenvolvimento integral de todas as faixas etárias da população.
O desafio fica lançado. Apresentem-se propostas de modelos de desenvolvimento sustentável e transversal de localidades com este potencial como é o da Ilha. Nada está por inventar, todos podemos ter a responsabilidade de criar oportunidades, uns mais do que outros, para que aquela pequena freguesia de Santana, tal como muitas outras da nossa Madeira, possa crescer e tornar-se competitiva.
Todos podemos fazer bem melhor, pelo mundo rural, pela Ilha e pelas nossas localidades, isto se estivermos dispostos a somar e não a subtrair. Se gostamos da nossa terra não tornemos a missão mais difícil, já que por si só é desafiante.
De verdade, tomara que todas as localidades tivessem a mesma dinâmica, condições e oportunidades que a Freguesia da Ilha tem.