António João Gonçalves
António João Gonçalves
Há 40 anos atrás, foi cá uma “festança” dinamizada por uma comissão nomeada para o efeito, para celebrar a data do quarto centenário…
Dessas comemorações, para além da pomposidade que foram dadas às celebrações politicas e litúrgicas na época, a minha memória guarda ainda outros cinco momentos que para mim se tornaram marcantes e certamente também ao restante povo de São Roque: As árvores que foram oferecidas aos fregueses para serem plantadas em casa de cada um e desse modo fazer perpetuar a lembrança dessas celebrações, o cortejo etnográfico que então foi realizado envolvendo toda a freguesia e alusivo à sua história das suas gentes e respectivas ocupações, o concurso que foi lançado para a iluminação de fachos pelos sítios que retratassem elementos alusivos à celebração em questão, o grande enfeitamento que São Roque foi alvo para estas celebrações e a fundação do Clube Desportivo de São Roque.
Passavam-se sensivelmente cinco anos do “dia da liberdade”. Os “pequenos”, ainda jogavam à bola em campos de terra ou entre balizas improvisadas em pedaços de estrada quase todas empedradas ou de terra batida, jogavam ao pião, ao lá-vai-obra, à bilhardeira (na minha zona chamado de pauzinhos), à casquinha, à matança, aos quentes, ao quente e frio, à apilhagem, ao jogo dos escondidos ou então, juntando-se às “pequenas”, ao jogo das prendas, do anel, da cabra-cega, das 5 pedrinhas (que terminavam sempre com o desafio de: bicudas ou redondas?), à macaca ou senhora, ao avião, ao lenço, entre outros.
Ainda se brincava com carros de verga e canas, com pneus cheios de água e sabão guiados por dois paus e arcos (muitas vezes à falta destes substituídos por círculos de mangueira). Ainda eram anos em que o “despique” de joeiras, papagaios e “estrelas” se viam pelos céus de São Roque e fazia parte da “praxe” quaresmal jogar ao “balamento” a valer amêndoas.
Os poços de rega da freguesia que existiam pelas serras, ainda serviam de piscinas aos muitos que não tinham possibilidade de ir com frequência às escassas piscinas e praias que existiam na cidade.
Eram ainda tempos em que pelo carnaval se coziam muitas tiras de papel de joeira em roupas esquecidas que se iam aos baús buscar para servirem de fatos/disfarces de carnaval e assim calcorrear os vários lugares da freguesia.
Hoje, tudo jogos, brincadeiras e situações que caíram no esquecimento.
Entretanto a água canalizada e a electricidade foram “invadindo” as casas de cada um, os carros começaram a se “aproximar” das pessoas com o criar de condições a caminhos existentes e outros novos que se iam abrindo, trazendo qualidade de vida a todos os fregueses. São Roque foi se transformando.
A igreja sede de freguesia, ganhou relógios na torre, altifalantes, bancos e soalho novos, tecto (de cimento) e telhas novas. Surgiu uma casa paroquial nova e salão paroquial, uma casa de chá para apoio às festas paroquiais, uma sede de escuteiros (consequência do ressurgimento dos grupo de escuteiros da freguesia, o Agrupamento 238 do CNE) e a remodelação da sala da Confraria do Santíssimo e sacristia das flores. Ainda uma outra nova igreja nasceu, a de São José, capelas são restauradas.
A própria Junta de freguesia, ganhou uma nova sede. Bem perto desta, um grande supermercado cuja marca tem o nome da freguesia nasce, tornando-se ele próprio um motivo de atracção e de divulgação da freguesia. Já viu outros “nascerem” e “morrerem” e continua a desempenhar bem a sua função.
Ainda junto ao lugar, a freguesia ganha um posto de abastecimento de combustíveis.
O grupo desportivo que nasce no dia de celebração dos 400 anos, CDSR, enriquece o seu património com o surgimento da sua sede e pavilhão.
São Roque ganha o que então era designado de Centro Sócio-educativo, entretanto prepara-se para o perder.
O já centenário Grupo Recreio União da Mocidade, ganha melhorias na sua sede actual e a promessa de uma nova sede com auditório para este, e o Clube Desportivo Azinhaga, hoje com mais de 50 anos, rejuvenesce.
Na Fundoa, junto à margem duma ribeira, foram aparecendo uma série de empresas e até a própria CMF aí se instalou com uma Estação de Transferência e Triagem de Resíduos Sólidos do Funchal. Um autêntico polo empresarial.
Muitas escolas, pela necessidade premente da escolarização dos habitantes, foram surgindo desde o ensino básico ao secundário, no Lombo Segundo uma, no Galeão duas, e mais recentemente no Muro da Coelha uma. Claro que para estas nascerem, outras foram desactivadas, realço o exemplo de uma que foi marcante a muitos, a Escola da Achada.
Junto às escolas do Galeão, nascem uns quantos apartamentos quer municipais, quer da responsabilidade do Governo Regional e implanta-se aí na zona o centro de saúde local, tornando o local numa nova centralidade da freguesia que se torna bem conhecida pelo grande presépio dinamizado pela Associação Cultural e Recreativa do Galeão.
Foram ainda nascendo alguns parques desportivos na freguesia a par do que as escolas iam tendo, como o campo de jogos de São Roque, o da Penteada (hoje tão esquecido por quem deveria zelá-lo) o do Galeão (completamente abandonado).
Na Penteada, vimos nascer um Mercado Municipal na freguesia que esteve quase a “morrer” mas felizmente reabilitado à uns anos atrás, e que atraiu uma série de serviços aos São-Roquenses, como estação de correios, banco, supermercado entre outros. Tudo isto faz do local uma outra centralidade importante da freguesia.
Passados 40 anos desse momento marcante da freguesia, o 4º centenário, muita gente nasceu, muita morreu, empresas, umas nasceram para ficar, outras infelizmente desapareceram, grupos surgiram e pouco perduraram no tempo, outros mantêm-se como forças vivas da freguesia.
Resta dizer que cabe a nós hoje habitantes de São Roque, honrar os nossos antepassados, zelando e melhorando a herança que nos deixaram fazendo com que a freguesia seja sempre e cada vez mais uma referência da Cidade do Funchal e da Madeira: aprazível, moderna, atractiva e dinâmica, com olhos postos no futuro que aí vem após os 440 anos de existência.
Parabéns São Roque.