Rogério Gouveia Fernandes
Rogério Gouveia Fernandes
Uma manifestação inocente de uma pré-adolescente com síndrome de Asperger em Estocolmo pode contagiar toda uma geração a nível global e provocar uma consciencialização ecológica e uma mobilização sem precedentes.
Esta breve descrição poderia servir muito bem para definir o famigerado ‘efeito Greta’, de forma muito rápida e simplista.
Durante a minha infância, e se me baldasse às aulas, fazia-o por mero capricho, rebelião ou inconsciência, e jamais para salvar o planeta. Admiro por isso a jovem sueca, que se manteve fiel aos seus valores e princípios e orquestrou o plano perfeito para se ausentar da escola, sem sequer ser sancionada ou advertida (mas antes incentivada e elogiada).
Os “efeitos” das suas ações, no entanto, nunca serão tão avassaladores como a
própria temática ou o objeto do seu protesto. E o discurso de Greta Thunberg até pode ser encenado, descontextualizado e ridicularizado, mas nem por isso a ameaça se tornará menos real e assustadora. Neste caso “matar o mensageiro” não resolverá (ou sequer atenuará) o problema, porque a mensagem é demasiado clara, concreta e inequívoca.
Se isto se tratasse apenas de mais uma produção cinematográfica hollywoodesca, teria com toda a certeza a chancela da comunidade científica internacional. Que pela primeira vez conseguiria produzir um blockbuster com efeitos especiais avassaladores, com um argumento que nos deixa em suspenso e expectativa, e com um elenco de luxo e de se lhe tirar o chapéu. Com Donald Trump e Jair Bolsonaro a assumirem os papéis de vilões poderosos e carismáticos, e ao mesmo tempo misóginos, instáveis e inconsequentes.
O que é certo, e independentemente de tudo o resto, é que Greta Thunberg (principal personagem deste enredo dramático), conseguiu mobilizar uma geração em torno de uma causa. Chamando ao mesmo tempo a atenção da comunidade internacional para uma questão demasiado importante, mas há muito tempo relegada para segundo plano.
Entretanto, e em Portugal, o PAN tornou-se finalmente relevante e subiu ao escalão superior da liga dos partidos (com direito a exposição pública privilegiada e transmissão televisiva quase diária). De repente, e como que por magia, as alterações climatéricas e as questões ambientais tornaram-se importantes bandeiras eleitoralistas. E todo o espectro político parece mesmo concordar com o outrora desconhecido Engenheiro André Silva, acolhendo com bom grado as suas ideias, e ao mesmo tempo medindo as palavras, para não cair na sua esparrela e nas suas próprias contradições (não vá o diabo tecê-las e o eleitorado castigá-los).
O aproveitamento político é notório. E é precisamente contra estas “palavras vazias” dos líderes mundiais que também se bate a jovem sueca. Que provavelmente até desconhece a realidade nacional, mas que já vai conhecendo a natureza humana e a perversidade e ambiguidade das agendas políticas.
Cada vez mais é premente “pensar globalmente e agir localmente”, evitando a todo o custo atingir o denominado ‘ponto de não-retorno’. E embora esta seja uma expressão que se tornou já quase um cliché (dando aso a ações puramente inócuas e virtuais nas redes sociais), nunca fez tanto sentido ou assumiu tanto significado como agora.