Ricardo Augusto
Ricardo Augusto
Pergunte a um Chefe de cozinha se as ervas fazem parte da sua mise-en-place e a resposta será um sim redundante.
As ervas aromáticas estão enraizadas em todas as “cozinhas” e muitas delas são raras, exóticas, misteriosas e até…proibidas!
Desde o Coentro, Funcho, Hortelã-Pimenta, Manjericão, Orégão, Malagueta, Salsa, Tomilho e outras mais, todas elas, com maior ou menor afinco, são trabalhadas para fazerem parte de um prato ou mesmo de uma oferta gastronómica na sua globalidade.
E a cannabis?*
Será que é “vista” como uma erva capaz de ser reinventada, estudada e utilizada pelos Chefes nas suas criações culinárias?
A resposta é sim, embora esta nova moda/tendência seja apenas permitida em alguns países onde o consumo é legal e sem restrições como nos Estados Unidos, no estado da Califórnia, onde encontramos alguns dos Chefes mais famosos e “defensores” desta erva para fins recreativos/culinários.
Tudo se resume a uma ideia simples e genial: A criação de uma verdadeira “experiência gastronómica” e que a mesma seja capaz de proporcionar aos comensais algo único e distinto.
Para termos uma ideia um pouco mais clara, as substâncias presentes nesta planta e utilizadas pelos Chefes são o THC (tetraidrocanabinol) e o CBD (canabidiol). O THC é uma das muitas substâncias presentes na planta de cannabis em diferentes concentrações e causa um efeito intoxicante ao desencadear a libertação de dopamina no cérebro (produz a sensação de bem estar e de prazer). O CBD pelo contrário, produz um efeito mais relaxante e de alívio da dor.
Estas experiências gastronómicas, por norma, inserem-se em menus previamente trabalhados e com vários pratos onde, por sistema, nos primeiros, o comensal ingere um total de cinco miligramas de THC e nos seguintes, também um total de cinco miligramas mas, desta feita, de CBD. Este procedimento rigoroso permite assim uma distribuição eficaz e gradual dos efeitos das substâncias nos comensais.
Muitos destes jantares com o intuito de estimular ao máximo os sentidos, incluem peças teatrais e musicais e acabam por ser verdadeiras obras de arte onde o resultado final depende em grande parte do próprio cliente uma vez que o mesmo decide a dosagem de THC e CBO (no máximo até 15 miligramas).
Dizem os chefes que é divertido apreciar o decorrer das refeições dado que, no início da noite, todos estão muito faladores e excitados e no final, todos estão “contentes, risonhos e relaxados” nos sofás e puffs. Uma verdadeira transição de estados de alma!
Nós por cá na Calheta, proporcionamos também experiências gastronómicas únicas e, recentemente criamos, a pensar nos nossos comensais, uma noite de sushi que acontece todas as sextas feiras no Onda Azul e sem “aditivos” ou “substancias que fazem rir”.
*A legalização do uso de cannabis em Portugal é só até ao momento para fins medicinais, foi aprovada em Junho de 2018 e a regulamentação foi publicada em Diário da República no dia 15 de Janeiro de 2019.