Rogério Gouveia Fernandes
Rogério Gouveia Fernandes
É impossível passear pelo norte da ilha da Madeira e não se deparar com a desertificação.
Não na verdadeira acepção da palavra (de espaços secos, áridos e praticamente inabitáveis), mas no que à presença de população jovem, dinamismo e preservação do espaço público diz respeito.
Façamos um pequeno exercício: imaginemos o centro do Funchal sem turistas e apenas povoado por população residente (maioritariamente idosa, pensionista e com baixo poder de compra). Talvez nesse momento se comece a perceber o que se passa um pouco mais a norte, onde até se começaram por criar condições e infraestruturas, mas sem uma visão de longo prazo (nem sequer de curto, sejamos sinceros). Desactivar escolas em determinadas localidades para se edificar outras em freguesias vizinhas, que por sua vez acabaram por fechar (e em tempo record), é tudo menos uma estratégia visionária. Construir zonas balneares que se encontram ao abandono, degradadas e inactivas no verão (inclusive as casas de banho e os espaços comerciais adjacentes), é triste e desolador.
E nem o turista menos exigente, que apenas procura sossego e tranquilidade, tem a vida facilitada. E neste plano os parques de campismo até são uma ideia interessante e paradigmática. Pena a comunicação destes espaços ter simplesmente parado no tempo. Não raras a vezes o campista precisa mesmo de pegar no telefone ou enviar um fax para aferir acerca das suas condições ou disponibilidade. E o registo é feito presencialmente, imagine-se, e mediante o pagamento de uma caução. Isto já para não falar da burocracia aplicada ao campismo selvagem (já me confidenciada por alguns indivíduos aventureiros que estavam longe de esperar tamanhas dificuldades, mesmo antes de pisar o terreno).
O destino Madeira, ainda que pouco homogéneo, vende-se estranhamente como um todo: desde as belas paisagens idílicas e verdejantes do norte, que figuram quase sempre nos cartazes turísticos, passando pelas imensas levadas, até às quase extintas casas típicas de Santana (atente- se na ironia). E o Norte até pode ser a “galinha dos ovos de ouro”, no que às paisagens e tradições diz respeito, mas os “ovos”, esses, parecem ter sido todos postos a sul.
E enquanto esta política centralizada continuar (com as próprias Secretarias a preferirem o quentinho e a conveniência do Sul, a se digladiar pelo espaço exíguo da placa central ou a debater a localização das barraquinhas de natal), resta-nos apenas esperar que esta “galinha” continue viva por muitos e bons anos, na esperança que o norte fique definitivamente “na moda”. Mas não apenas por capricho ou acaso. Antes através de medidas concretas, criativas e sustentáveis (para variar).