Escolhida como uma das 7 finalistas da Madeira na edição 2020 das 7 maravilhas da Cultura Popular de Portugal, a tradição dos Fachos, em Machico, submetida pela Câmara Municipal, ameaça incendiar as relações com a igreja, que acusa o executivo presidido por Ricardo Franco de “falta de honradez e de honestidade” ao se apoderar da tradição que não lhe pertence para “cumprimentar com o ‘chapéu alheio’”.
As duras críticas dirigidas à Câmara Municipal são feitas pelo Cónego Manuel Martins, pároco de Machico. O sacerdote utilizou a página da igreja de Machico para expressar o profundo descontentamento perante a postura da autarquia. Fê-lo no último fim-de-semana e quem assistiu à missa no domingo, garante que o sacerdote “foi duro com a Câmara e o seu presidente”.
No cerne da polémica está a candidatura feita pelo município da tradição secular que ocorre no último sábado de Agosto, associada à Festa do Santíssimo Sacramento.
Quem não apreciou a ousadia foi o Cónego Manuel Martins. Numa extensa resenha histórica começou por deixar claro que “os fachos, remontam à época do descobrimento da Madeira. Os Fachos estão intimamente ligados à Igreja – Festa do Santíssimo Sacramento.”, começou por assinalar.
O sacerdote deixou para o final do resumo detalhado as críticas dirigidas ao poder autárquico.
“Neste momento estou verdadeiramente admirado e triste, ao tomar conhecimento que a Câmara Municipal de Machico se apoderou desta belíssima tradição que não lhe pertence directamente, nem nunca esteve sob o seu domínio. Mas reconheço que é um belíssimo cartaz turístico com o qual a Câmara ganha dividendos, mas não deixa de ser uma invasão a propriedade que não lhe pertence, e um cumprimentar com o ‘chapéu alheio’” referindo-se à candidatura às 7 maravilhas populares de Portugal na categoria de rituais e costumes.
E prosseguiu: “Lamento profundamente a falta de honradez e de honestidade da parte da Câmara de Machico, que nem se dignou, pelo menos, comunicar à Paróquia, entidade a quem sempre esteve ligada esta actividade dos Fachos, as suas pretensões”, dado o recado, adianta que “quiçá, através do diálogo, talvez se pudesse articular com a Paróquia a candidatura, caso o objectivo fosse sério e conveniente. Mas tudo está a ser feito à revelia da Igreja, com as características de quem entra em propriedade alheia pela calada da noite”, atira.
Manuel Martins lembra que “esta tradição pertence aos cristãos desta terra de Machico. Pertence-vos a vós povo da Paróquia de Machico. E pertence-vos também dizer alguma coisa sobre o assunto. O que quereis fazer no futuro com os fachos?”, questiona.
Termina o longo post acrescentando: “Nem sequer pretendo que estejam do meu lado, mas preciso pôr-vos ao corrente dos acontecimentos, e colocar os pontos nos iis. Daqui para a frente façam o que entenderem melhor. Está nas vossas mãos”, concretizou.