Sónia Gonçalves
Sónia Gonçalves
Apanhou-nos, a todos, despercebidos. Foi um valente soco no estômago. Esta pandemia trocou-nos as voltas.
Em janeiro, escrevia neste espaço, otimista e confiante, que 2020, um novo ano, uma nova década, nos traria momentos memoráveis. Infelizmente, furando as expetativas de todos, não está a ser um ano excelente para ninguém…
Naquele artigo, evidenciava que o maior desejo da população do Jardim da Serra era ver concretizada a Via Expresso, não só para a melhoria das suas condições de vida, mas também como uma forma de atrair mais turismo.
O anseio por uma vida facilitada com novas acessibilidades mantém-se, mas a importância de atrair mais turistas é evidente.
Aqueles turistas nacionais e estrangeiros, os que estão hospedados no Hotel Quinta da Serra e os que se deslocam às zonas altas da freguesia para passeios nas verdes e pitorescas paisagens. Os que se encantam com o manto branco das cerejeiras em flor e se deliciam com as ricas cerejas. Os que bebem licores e provam várias ponchas até perceberem que o grau alcoólico é deveras muito elevado.
Aqueles turistas que se aventuram à descoberta da natureza e, de carro ou a pé, obrigam as donas de casa, muitas vezes bordadeiras de profissão, a aprender algumas palavras em inglês. E se não sair em inglês, vai em espanhol: “Corrida? Arriba”.
Aqueles turistas que fazem fotografias que nos parecem ser quase ridículas, devido aos panoramas aparentemente banais.
A nostalgia vem ao de cima quando visitamos as áreas mais turísticas da freguesia. Fazem-nos muita falta. Ali e em toda a ilha.
Acompanhando a tendência mundial, assusta o deserto de alguns pontos da cidade do Funchal, da zona turística do Lido, com tantas camas vazias, e da Zona Velha, com tantos restaurantes fechados.
A ausência de turistas nas mais diversas atratividades por onde deambulavam, como o Mercado dos Lavradores, onde algumas pessoas do Jardim da Serra têm postos de venda, faz-nos antever o pior dos cenários.
Com a abertura do aeroporto, começamos a ver vestígios da sua presença.
De uma forma antagónica, queremos que venham muitos, mas ao mesmo tempo tememos pelas consequências.
É normal o aumento de receio e medo, mas temos de aprender a conviver com esta nova realidade, confiando no controlo feito pelas autoridades e aprendendo a cumprir as regras de segurança, conscientes dos riscos inevitáveis.
Os turistas, esses, parece-me evidente que temos de os “acarinhar”, pois são a esperança de que poderá ficar tudo um pouco melhor.