Um grupo de moradores da Fajã do Penedo, na freguesia de Boaventura, mostra-se indignado com a construção de algumas estruturas para a prática de BTT ao longo do Caminho da Boca das Voltas.
Este descontentamento fundamenta-se nos problemas causados pelos ‘saltos’ construídos, já que não só impedem a passagem e o acesso aos terrenos agrícolas nas imediações, mas também colocam em causa a sua segurança quando ‘arriscam’ passar por ali, temendo que “uma dessas pessoas que descem de bicicleta a uma velocidade impressionante por aquele caminho íngreme” lhes ‘caia’ em cima. Na tentativa de verem a situação resolvida e a normalidade reposta, entregaram, na semana passada, na Junta de Freguesia, um documento ontem exigem medidas por parte daquele órgão do poder local.
Contactado pelo ‘Diário das Freguesias’, Lino Camacho confirma a situação, adiantando que remeteu o caso para a Câmara de São Vicente e para o Instituto das Florestas e Conservação da Natureza (IFCN), entidades que, a seu ver, poderão tomar alguma posição, já que a junta pouco mais pode fazer do que mediar o conflito. Nesse sentido, e reconhecendo a importância que os praticantes de BTT e de outros desportos de natureza têm para a economia local, tentou minorar o descontentamento, mas sem sucesso.
Da parte da Câmara Municipal de São Vicente, José António Garcês confirma o abaixo-assinado, que reencaminhou para o IFCN e a respectiva Secretaria, mencionando que não recebeu qualquer pedido de licenciamento com a vista a qualquer intervenção nesse local.
Por outro lado, Manuel Filipe, do IFCN, assegura-nos que também não lhe chegou qualquer pedido com vista a essa intervenção, pelo que a mesma não tem a autorização nem anuência do Instituto. Uma vez que não se trata de percurso recomendado para a prática de BTT, o corpo de polícia florestal irá intervir sempre que necessário, referindo, inclusive, que já foram levantados alguns autos de notícia nesse local. Deverão, também, ser tomadas medidas quanto às alterações topográficas do terreno em área protegida.
O presidente do concelho directivo do IFCN salientou, ainda, que “qualquer pedido de autorização para provas ou prática individual no caminho em questão terá de se fazer acompanhar de um documento que ateste que os proprietários dos terrenos autorizam a realização das mesmas, uma vez que o trilho atravessa terrenos privados”.
Procurámos, também, ouvir Ricardo Pinto, coordenador nacional da Comissão ‘Trilhos e Natureza’ da Federação Portuguesa de Ciclismo, e que no ano passado foi o responsável pelo Campeonato Regional de Enduro, cujas provas se realizaram naquela local, e que diz desconhecer a estrutura da discórdia, não deixando de referir que “toda e qualquer intervenção feita sem as devidas autorizações é condenável, pois deve ser respeitada a legislação em vigor, e devem ser evitados conflitos com os demais utilizadores dos trilhos”.
Algumas empresas de animação turística que se dedicam à prática do BTT com turistas e que assumem passar com alguma frequência neste local, sendo inclusive indicadas pelos populares como principais beneficiários destes ‘saltos’, também foram contactadas. Os seus responsáveis afirmam não ter conhecimento dessas estruturas, nem tão pouco terem qualquer responsabilidade na sua construção, atribuindo, inclusive, aos jovens da localidade a autoria desses ‘saltos’.