Susana Silva
Susana Silva
A Quinta do Conde de Torre Bella é uma incrível propriedade, com preciosas vistas para o oceano Atlântico, envolta por um ambiente natural e florestal, situada na freguesia do Arco da Calheta.
Esta propriedade histórica remonta ao século XVI, tendo sido adquirida pelos Viscondes de Torre Bella, descendentes directos dos primeiros povoadores da Madeira. Este local dispõe de uma capela privada, actualmente utilizada para cerimónias católicas, nomeadamente casamentos e baptizados. Neste mesmo sítio, é possível encontrar o brasão de armas da família britânica.
Os visitantes da Quinta do Conde de Torre Bella podem desfrutar do jardim composto por uma magnífica panóplia de flores, cheiros e cores. O seu velho carvalho, com cinco séculos, é das mais antigas árvores da ilha, rodeado por jardins antigos e por terras agrícolas cultivadas, plantações de bananeiras e árvores de frutos exóticos que pairam sobre o mar.
Várias casas originais dos agricultores foram reconstruídas, mantendo os seus traços e estrutura tradicionais, estando hoje disponíveis para alojamento de turismo rural.
Institucionalmente, chama-se Quinta do Conde de Torre Bella, mas, para a população do Arco da Calheta, esta será, sempre, a Quinta da Dona Celeste, a quem, através deste meu primeiro texto no Diário das Freguesias, irei prestar uma humilde homenagem.
A Dona Celeste, Mulher acarinhada por todos, chamava-me a menina da rádio, abordando-me sempre com nomes de canções que a levavam à sua eterna juventude. Senhora perspicaz, de sorriso afável, de uma generosidade admirável, dizia-me que o mais importante da vida era o amor. Talvez por essa razão, ficava imensamente feliz quando se realizavam casamentos na sua capela.
A Dona Celeste era uma mulher apaixonada pela natureza e por tudo o que ela oferecia, desde os frutos exóticos até às flores. Dizia que depois de uma noite de tempestade havia sempre um lindo dia de sol, no qual a esperança se renovava. Assim era a Dona Celeste, mulher doce, que tornava a vida das outras pessoas também mais doce, através dos seus memoráveis bolos “gigantes”, que faziam as delícias dos grupos de turistas que por lá passavam e das crianças da Escola EB1/PE Ladeira e Lamaceiros.
Da janela da sua sala, dizia que a vida era um sopro e, por isso, devíamos contemplar, todos os dias, as belezas que Deus “nos concedeu”, desde o sol que ilumina as suas flores, até à chuva que rega as suas plantações. Tudo era visto como uma dádiva. Por isso, estou certa que era uma Mulher feliz.
Apesar da sua partida, a Dona Celeste continua presente na vida da população do Arco da Calheta, como a condessa mais humilde que um dia a região conheceu.
Hoje está, de volta, de mãos dadas com o seu eterno amor.
“Se ao dizer adeus à vida
As aves todas do céu
Me dessem na despedida
O teu olhar derradeiro
Esse olhar que era só teu
Amor, que foste o primeiro
Que perfeito coração
No meu peito morreria
Meu amor na tua mão
Nessa mão onde batia
Perfeito o meu coração.”
Amália Rodrigues – Gaivota