O gosto pela leitura, desde cedo, fez parte da minha vida; as minhas irmãs mais velhas eram professoras primárias(Primeiro Ciclo) e era habitual me presentearem com livros. Contudo, além de ter a possibilidade de ter livros em casa, gostava de frequentar a Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian. Só para contextualizar, o Serviço da Biblioteca Itinerante (SBI) da Fundação Calouste Gulbenkian foi criado em 1958 a partir de uma ideia do escritor Branquinho da Fonseca e funcionou até 2002. Tinha como principais objetivos: promover e desenvolver o gosto pela leitura e elevar o nível cultural dos portugueses. Foi um modo muito importante de levar os livros às localidades que não tinham outro tipo de acesso à cultura.
O dia em que vinha a carrinha da Biblioteca era uma alegria! A carrinha parava junto ao largo da igreja na Ponta do Pargo. Era uma carrinha singular, de modelo Citroen HY de cor cinzenta. Tinha duas portas atrás que se abriam e uma porta lateral que abria para cima para permitir ver melhor os livros. Era – nos dados um cartão de leitor que tínhamos de apresentar quer na entrega, quer na requisição de novos livros. Podíamos requisitar de forma gratuita até três livros, se não me falha a memória.
A entrada na carrinha era como entrar num mundo das aventuras de Enid Blyton, com os Cinco e os Sete, as histórias de princípes e princesas, os Mistérios do Triângulo das Bermudas, entre outros livros que me despertavam o gosto pelo leitura. Importante era que partilhávamos com os nossos amigos as histórias dos livros que tínhamos lido.
Dentro da carrinha os livros encontravam-se divididos por categorias: nas prateleiras de baixo, os livros para crianças; nas do meio, os livros de ficção, de viagens e biografias; nas prateleiras de cima, ficavam os livros menos procurados, de filosofia, poesia, ciência e técnica.
O encarregado da carrinha que eu frequentava era o Sr. Gabriel, homem afável que pacientemente nos aconselhava os livros mais indicados para as nossas faixas etárias e muitas vezes me dava a possibilidade de trazer mais um livro do que era permitido, tal era o meu gosto pela leitura! Recordo com saudade a forma simpática e paciente com que ele nos recebia. Havia ainda um colaborador, de quem não me recordo o nome, que também nos auxiliava.
Já nos anos oitenta, passei a frequentar a Biblioteca “ O Jardim”; esta rede de bibliotecas fixas foi criada pela Professora Maria Margarida Macedo Silva (também conhecida por Magda Flor) em 1979.Também fui uma leitora assídua desta biblioteca, tendo inclusivamente recebido um diploma de “Melhor Leitora” …como podem imaginar fiquei muito orgulhosa na época!
A frequência das bibliotecas durante a minha infância marcaram – me de forma muito significativa e motivaram de forma mais incisiva o meu gosto pela leitura que já me tinha sido incutido pelas minhas irmãs.
E a propósito de livros…nesta conjuntura pandémica…como não se pode sair de casa, aproveite para “viajar” lendo um livro!