Ricardo Catanho
Ricardo Catanho
Estou em casa e através da janela vejo por todo o vale um verde-claro magnífico, não estivéssemos nós no mês de Junho, este verde que pessoalmente não o consigo classificar, embora arriscasse a dizer que me parece um verde Primavera é uma imagem de marca da nossa freguesia e um dos elementos essenciais da nossa identidade cultural, São Vicente é conhecido na Madeira e mesmo além-fronteiras pela qualidade das suas uvas e do maravilhoso néctar que estas produzem.
Grande parte da nossa economia gira em torno desta cultura, e é ver homens e mulheres nesta altura do ano juntam-se em grupos e num verdadeiro compromisso de interajuda sobressai a união entre as pessoas num verdadeiro espirito de comunidade, a vinha e a sua cultura tem algo de mágico, tem algo que faz com que os vizinhos trabalhem juntos em verdadeiros grupos organizados, vão andando de terreno em terreno a tratar das vinhas de cada um.
Embora esta cultura requeira uma dedicação ao longo de todo o ano, o mês de Junho é um dos mais críticos e um dos que requer mais atenção, a ameaça de pragas é permanente e o míldio ou oídio requerem atenções redobradas.
Embora não seja produtor, vivo rodeado de vinhas e convivo com esta cultura desde que nasci, parte daquilo que sou também se deve a esta realidade sendo através desta premissa que posso justificar o porquê de também ser um apreciador deste néctar dos deuses…
A cultura da vinha está intrinsecamente ligada á população de São Vicente, é indissociável, não é por caso que somos os maiores produtores de vinho da Região, este produto faz parte de nós e é fundamental na parca economia da nossa freguesia, é preciso muito suor, trabalho árduo e dedicação para que os vitivinicultores sejam recompensados pelo trabalho que tiveram ao longo de todo o ano.
Em Agosto de 2015 ouvi o Secretário regional da tutela, que por acaso é de São Vicente, com a anuência de políticos locais, prometer que se iria realizar a Festa da Vindima em São Vicente, mas infelizmente e mais uma vez não passou apenas de mais uma promessa de circunstância.
A Festa da Vinho tinha e tem todo o sentido em ser realizada aqui, não apenas para envolver os vitivinicultores que deveriam ser homenageados e reconhecidos publicamente, mas também toda a comunidade já que todos nós que cá vivemos beneficiamos de uma maneira ou de outra desta riqueza.
O que se fez em 2017 com estes homens e estas mulheres para evitar de ser muito duro no adjetivo classificaria como de inadmissível, o que a Secretaria Regional da Agricultura e Pescas fez a esta gente é profundamente lamentável e com o silencio ensurdecedor da Câmara Municipal é a todos os níveis lamentável, chegar ao mês de Agosto e dizer que iriam pagar as uvas a apenas 0,50€ em vez dos habituais 1€/1,10€, deixar filas de carros carregados de uvas durante 1 dia, 2 dias estando as uvas a apodrecer com a justificação de falta de transporte para as casas de vinho no Funchal, outras pessoas que viram as suas uvas também apodrecer nas parreiras com a justificação por parte dos responsáveis que não havia caixas suficientes para fazer a vindima, é brincar com a vida das pessoas e com o trabalho de um ano, presenciei muitas delas a chorar e a questionar o que poderiam fazer no futuro, como é que vai ser daqui para a frente? Iremos viver de quê?
Passado umas semanas e através do nosso esforço e persistência lá aumentaram 0,30€ por quilo, mas ficou o susto, as preocupações, a incerteza para o futuro e também menos 0,20€/0,30€ por Kg.
A única coisa que pedia encarecidamente aos responsáveis é que não brinquem mais com estes homens e estas mulheres, que a Câmara esteja atenta e do lado destas pessoas, na defesa intransigente dos seus interesses, pensem no que seria São Vicente sem vinha, isso assusta-me, não só para aqueles que produzem mas também para todo o resto que esta cultura envolve que deverá estar sempre em crescimento e se reinventado cada vez mais por exemplo havendo mais ligação com os sector turístico não só pela enorme beleza paisagística que envolve mas também por todas as experiencias que poderão ser vivenciadas e acabo com um chamar de atenção ao setor da hoteleira e restauração local, deem prioridade ao que se produz na nossa terra, tenho muita dificuldade em perceber como é que ainda há algum bar, restaurante ou hotel que não tenha em maior destaque nos seus menus o vinho de São Vicente.