Tânia Sofia Gonçalves
Tânia Sofia Gonçalves
O jogo das cartas, entre tantos outros, a bisca e o cassino, sempre fez parte da vida dos madeirenses. Jogar “às cartas” é um jogo popular que, ainda hoje, tem a particularidade de ser uma atividade recreativa acessível a todas as idades e estatutos sociais, transformando-se num fenómeno cultural que foi passando de geração em geração.
Quem não se lembra de jogar “às cartas” ou de assistir a grandes disputas entre os familiares e amigos? Nas épocas festivas, principalmente nos dias de Natal, era comum, depois do almoço, passar as tardes a jogar à bisca.
O jogo era mesmo a sério, ninguém podia falhar, os olhares corriam as costas das cartas dos parceiros tentando adivinhar os trunfos, a desconfiança da batota, por vezes, acabava em briga acesa. A par das risadas, dos murros na mesa de satisfação e dos gritos de vitória, se algum dos jogadores fosse apanhado a passar sinais ou se houvesse alguma jogada mal pensada, que seria de imediato gozado, as cartas poderiam voar para local incerto. Lembro-me da maestria do meu avô.
No Caminho do Terço, ninguém tinha hipótese com ele, era exímio jogador. Não lhe escapava um trunfo, gravava na memória as cartas que iam saindo e sabia uma a uma as que faltavam sair, raramente perdia uma bisca de nove.
Era uma outra forma de socialização e de reunião das famílias e amigos mais chegados. Hoje, esses jogos foram substituídos pela televisão, telemóvel, tablets e outros jogos eletrónicos. Durante a hora do almoço, ao passarmos por uma obra, ou numa oficina, ou num armazém de qualquer género, antes era comum os trabalhadores passarem essa hora de descanso a jogar um cassino, hoje, estão de olhos fixos no seu telemóvel vagueando pelas redes sociais. Embora, torna-se justo relevar, ainda nos cruzamos com grupos de jovens, sentados numa esplanada, na praia, a jogarem às cartas. Entretidos, em alta galhofa, divertem-se à maneira antiga e com um baralho já gasto pelo uso.
Em Santa Maria Maior, esta tradição das cartas ainda vai acontecendo em alguns locais, se passarmos por algumas zonas da freguesia tais como o Larguinho da Feira, junto ao Mercado dos Lavradores, no jardim do Campo da Barca ou no jardim do Almirante Reis, tornou-se habitual assistirmos a grandes jogos da bisca e do cassino. Antes do grupo chegar, conseguimos vislumbrar um dos jogadores encostado ao muro à espera dos parceiros com o baralho nas mãos. Aos poucos, eles vão chegando, conversam sobre o futebol ou mesmo do jogo do dia anterior, da sorte ou do azar das cartas.
Dezenas de homens, a maioria reformados, agrupam-se à volta de uma mesa de pedra uns a assistir e a apoiar os amigos e os outros a jogar entusiasmados. Convivem alegremente uns com os outros, ocupam o tempo concentrados na arte do jogo, apesar de, por vezes, a disputa atingir as brigas, as discussões e os amuos de quem perde ou desconfia da batota do adversário.