Nélio Gouveia
Nélio Gouveia
Década de 50 no Arco de São Jorge e ouvia-se tilintar pela “Roda da Quebrada”. Lá vinham os carteiros, mas estes carteiros não traziam cartas ou qualquer outra correspondência, estes traziam vinho jaqué.
Os carteiros eram os trabalhadores melhor remunerados de toda a vindima, 2,50$ por cada “carrete”. Havia uma competição feroz para fazer o maior número de carretes durante o dia. Um “acima-abaixo” incansável de “acartar” vinho!
Cada carteiro tinha o seu bordão e molhelha. Cada bordão tinha um tilintar ímpar, os carteiros eram reconhecidos ao longe pelo tilintar do seu bordão. Nos nossos dias podíamos dizer que o bordão era “Pessoal e Intransmissível”.
Os “senhores”, que aguardavam a chegada do vinho às lojas, ouviam o toque de cada bordão e sabiam qual o melhor carteiro de vinho, qual o que merecia ser recompensado com um barril de oferta ao final do dia.
Os carteiros, que davam “dias fora” aos grandes senhores, tinham orgulho nos seus bordões, feitos com madeira de folhado e com uma bifurcação numa das extremidades para se apoiarem. Na outra extremidade, a ponta que tocava o chão, era colocada uma peça de metal, e era essa peça que fazia toda a diferença e distinção entre os bordões, um som único e que anunciava cada carteiro. O orgulho nos bordões era tanto que, quando estes homens já não podiam trabalhar ou andar pela freguesia, davam os bordões aos seus filhos mais velhos ou aos genros. Uma responsabilidade e uma honra para quem recebia o bordão, afinal era símbolo de toda uma vida de trabalho árduo em prol da família.
Hoje em dia, estes carteiros já não fazem parte do nosso quotidiano, mas os bordões ainda existem em muitas famílias e casas da freguesia. Bordões de conto com mais de século de história, de suor, de tilintar, de honra e de trabalho.
“Toc, toc, toc, …. Lá vem o José a subir na Roda da Quebrada”.