Renato Brito
Renato Brito
É do cheiro a terra molhada que se fazem os ziguezagues e é por entre os ribeiros e as figueiras que se desenharam as lembranças longínquas em minha mente.
É do tempo.
É do tempo dos pés descalços que a gente da minha terra tem saudade.
Do carro do peixe.
Do carro do gás.
Do carro da laranjada.
Das corridas desenfreadas para apanhar o autocarro.
Dos telefones aéreos para falar com os vizinhos.
Dos pedidos fiados na mercearia do “Bijau”.
Era toda essa bagunça que hoje é magia e que amanhã será certamente esquecida ou trocada por outros ziguezagues.
Em cada encanto, de recantos.
Do pão da Adega.
Da missa de madrugada.
Do kilo de arroz emprestado.
Em cada bocado, de aço, da varanda.
Da escadaria infinita até à estrada.
Se fizeram todos estes pedaços
De lembranças.
Do Campanário.