Nélio Gouveia
Nélio Gouveia
Trimm, trimmm… Toca o despertador pelas sete da matina do dia 8 de fevereiro de 1994. Eram horas de colocar os pés no chão, tomar um duche rápido, vestir a roupa, que a mãe preparara no dia anterior, e seguir para a escola.
A dois passos de casa, era hora de dar dois apupos, chamar pelos colegas e seguir caminhando, mais de trinta minutos, até chegarmos à escola. Destes trinta minutos, metade eram feitos na “nossa autoestrada”, os muros de proteção serviam para pilotar os nossos carrinhos da “burago” ou da “matchbox”. Já na Primavera ou Verão, os mesmos muros serviam para apanharmos lagartixas que se “esponjavam” nos raios de sol. Uma aventura diária.
Das 08h30 às 10h30 estávamos concentrados e empenhados nas aulas. Não havia campainha na nossa escola primária do Arco de São Jorge, por isso o intervalo, ou melhor, o recreio, era quando o professor autorizava. Normalmente entre as 10h30 e as 11h15. Hora do lanche e do recreio, primeiro a sandes de marmelada e depois a espera pelo “horário das 11” (compreenda-se autocarro que chegava por volta das 10h45) que trazia “bolos com creme” por vinte e sete escudos e meio da padaria de Santana. E que bem sabiam aquelas bolas de Berlim e aqueles bolos de massa folhada. Barriguinha cheia, toca “jogar à bola”. Equipas escolhidas pelos nossos interesses clubistas (portistas para um lado, benfiquistas para o outro) e bola a meio campo. Bem, devo dizer que não tínhamos bola na época, jogávamos com uma tampa de bilha de gás (ou garrafa de gás da Shell – como chamávamos). Diversão garantida e, normalmente, ficava sempre empatado o jogo. Pelo menos dizíamos que “Amanhã desempata-se!” e ninguém se chateava.
De volta às aulas até às 12h30 e nesse período alguns apagadores ou paus de giz voavam sobre as nossas cabeças, mas isso é outra história. “Hora e meia” era fim do turno da manhã. Toca voltar a caminhar mais 30 minutos até chegar a casa para o almoço. O regresso às aulas era às 14h30, logo não poderíamos demorar na refeição. Sempre a correr e mais 30 minutos de “autoestrada”.
O período da tarde ficava reservado para as aulas de música e para a professora Gilda. Sim, para a Professora Gilda porque foi a minha e a nossa professora de Educação Física em toda a primária.
17h00, “mais coisa menos coisa”, e lá íamos de regresso a casa. Por vezes alternávamos entre a Estrada Regional e algumas veredas que apelidávamos de “corta caminhos”. Éramos um grupo a rondar a dezena de “piquenos” que fazia um “trapicho” pelo caminho.
Chegados a casa, íamos ver os desenhos animados que passavam na RTP Madeira. Eu esperava para ver o “Popeye”, que, na altura, passava em dose dupla ou tripla e logo após fazia os TPC´s.
18h30 era a hora de nova brincadeira. Toca descer até à Estrada Regional (apenas passava um carro de “tempos a tempos”), dar mais 2 apupos, e chamar pelos colegas. Altura de jogar à “Macaca”, à “Bandeirinha”, aos “Reis e às Rainhas”, ao “Mississipi”, entre muitas outras brincadeiras. Não havia hora para terminar, ou melhor, havia, terminava quando alguns dos nossos pais começavam a chamar pelos nossos nomes aos “altos berros” para irmos jantar.
Depois, como se diz cá na terra, “Xixi, cama!”.
Trim, Trim,…. Sete da matina …