Isabel Cristina Camacho
Isabel Cristina Camacho
O pão por Deus é, desde os nossos primórdios, uma importante tradição das gentes do Curral das Freiras. Tempo de agradecer e partilhar o que a terra nos dava, principalmente os frutos da época, como as castanhas, as nozes e os peros.
Longe vão os tempos em que este dia de Todos os Santos, era vivido pacatamente, em família!
Depois da Missa, almoçávamos juntos e a tarde era passada na porta do caniço (sótão da cozinha a lenha, feito de cana vieira, onde se secavam as castanhas e nozes). Provavam-se as castanhas, que eram pisadas num cesto para tirar a casca e parte da “garepa”, se eram de boa qualidade, se eram doces e se estavam o suficientemente secas para guardar numa caixa de madeira, que o Inverno era longo e era preciso garantir a fartura na mesa.
Era um regalo, provar as nozes e as castanhas, normalmente regadas com um bom vinho novo, curraleiro, que o São Martinho não se chateava que se “encetasse” uma pipa mais cedo, até porque o dia também era dele, afinal. E assim era o nosso Pão por Deus, o dia de todos os Santos. Tradições doces, tão doces como as lembranças que guardamos!
Atualmente, este dia é aqui assinalado, com a grande Festa da Castanha!
Idealizada, (e muito bem) para garantir o escoamento da nossa produção agrícola, assume-se hoje como uma das maiores festas deste género, a nível regional.
Estão de parabéns, a Casa do Povo do Curral das Freiras, que, em parceria com outras instituições preparam mais um magnífico evento, que desde há 35 anos faz parte da vida dos curraleiros e de tantos outros madeirenses e turistas que já têm como tradição esta grande Festa, em dia de Pão por Deus ou de todos os Santos. São aos milhares, os que todos os anos elegem o Curral das Freiras para passar este feriado e cada vez mais são as razões para que voltem sempre. Dois dias de animação total e tradição que fizeram as delícias de locais e forasteiros, numa das edições com maior afluência de sempre.
As tão apetecidas barracas, tinham ao dispor dos visitantes, os mais variados produtos, as castanhas, as nozes, os peros, o mel de abelhas e uma grande variedade de delícias confecionadas a partir destes. As prateleiras carregadas, também, com os mais distintos licores, desde a nossa tão tradicional ginja, ao licor de castanha e tantos outros de cores e sabores fantásticos. A sopa de castanha, (que pessoalmente, adoro) é a principal especialidade, mas para quem prefere, existiam outras, igualmente saborosas e confecionadas à moda antiga. As castanhas assadas, de que já diziam os nossos antepassados: “Quem não gosta disto, do que gostará?” E então se forem devidamente regadas com algumas das nossas especialidades, melhor ainda.
Ai e os doces…esses então, só provando mesmo! Não sabendo bem por onde começar, vou dar prioridade aos meus preferidos. Comecemos então, pelos maravilhosos bolos e broas de castanha ou de noz; Brigadeiros, Salames, semifrios; Malassadas, bolas de Berlim, queijadas, tudo com as maravilhosas castanhas…ai Jesus e lá se foi a dieta! Mas porque um dia não são dias, “perdoa-se o mal que nos faz pelo bem que nos sabe” e fomos tão felizes!
A Missa, na nossa, tão bonita igreja, marcou a solenidade de Todos os Santos, animada pelos grupos corais da Casa do Povo Local.
O ponto mais alto da festa foi o cortejo alegórico! Centenas de figurantes trouxeram-nos à memória os costumes mais antigos desta freguesia e nele participaram desde recém-nascidos até aos mais velhos, residentes e emigrantes desta terra, envergando desde os trajes mais tradicionais, às mais belas indumentárias, criadas por muitas mãos de fadas, conjugando o antigo e a inovação. O folclore a música, de dezenas de grupos e associações locais e do resto da ilha, encheram a nossa aconchegante terra de cor e alegria.
Estão de parabéns, todos os que organizaram esta Festa, todos os que participaram, e os que, como eu, usufruíram destes dias maravilhosos!
Aos que cá não vieram, fica o convite para os próximos anos. Porque o melhor dia de Pão por Deus, é aqui…no “Coração da Madeira”!