Renato Brito
Renato Brito
Era natural,
Diziam eles!
Não entendo esta geringonça, ou melhor, esta bagunça, daquilo que era ou é natural. É tudo tão natural que assusta.
É natural que explodam coisas na Ásia Ocidental ( a 11 de Setembro era do outro lado). É natural que se peça uma bica (ou café para os mais requintados). É natural que se encontre um carro acidentado; é natural que o sol nasça mesmo sem vê-lo; é natural que não se atenda uma chamada; é natural que se fique sem internet no telemóvel; é natural que nos esqueçamos de um aniversário de um amigo; é natural que se faça exercício físico sem vontade nenhuma!
Por entre vontades e “normalidades”,
São infinitas as “naturalidades“,
Que assusta! Mas assusta mesmo! – No outro dia mudei de rua no acesso a casa, vim pelas traseiras, foi tão não natural que quase era caso de polícia. Polícia mesmo!
Hoje, tudo é tão natural que assusta! – Mas engane-se quem acredita! Não é natural, é habitual! É tão habitual que nem nos apercebemos! É que já não conseguimos pedir a bica numa chávena fria; é que já nem conseguimos mudar o trajeto para casa; é que já nem conseguimos conter os dedos na tela do telemóvel super, mega e hiper inteligente – que o Trump (naturalmente) disse que nos espia! Sim, foi ele quem disse, não eu!..
E, depois, é aí que soa o alarme.
-A cada mudança.-
E é tudo normal! Natural dizem eles.
Precisamos todos de mais gás natural, digo eu! E não é daquele quem vem em barris de pólvora! Esses estão bem quietinhos!
No antigamente, não muito distante, -no sítio da ribeira dos melões- o normal era retirar o “arroz da televisão”. Antigamente, o normal era comer pão como se nada mais existisse- e não existia! Antigamente, o normal era acabar o gás durante semanas, e não, não era natural! Era em barris de pólvora!
A cada dia os normais são cada vez mais inconstantes, impacientes, mutantes – delirantes! Hoje, tudo nos escapa pelos dedos das mãos como gás: natural, indolor; propagador – por entre barris de pólvora, compacta, e por entre trajetos repetidos, e bicas em chávenas escaldadas,
E eis que um novo normal surge na esquina seguinte.
Paramos?
Refletimos?
Agimos
Seguimos?
Sumimos?
Precisamos todos de mais gás natural, digo eu!