Élio Pereira
Élio Pereira
Com a aproximação à terra, o barco vindo do Funchal, aproxima-se de pequeno porto improvisado na fronteira entre as freguesias do Arco da Calheta e Calheta.
Ali, onde por vezes a ondulação agreste e maré agitada complicam a carga e descarga de mercadorias e o embarque e desembarque de passageiros. Ali, onde a rede aguardava pelos fidalgos para serem transportados, em digressão, pela Calheta. Ali, na Serra de Água.
Com percurso no tempo, percorrendo a vila da Calheta de lés-a-lés e tendo eu origem nesta zona costeira, parto desde os finais do século 19, na altura em que o meu bisavô, em tempos de sobrecarga física quase obrigatória, era um dos que carregava, na sua rede, desde este pequeno cais a Este da vila, os seus passageiros, por percursos ingremes que iam até o Rabaçal.
Mas não vamos tão depressa assim! Saído desta localização, o percurso é efetuado junto à “rocha”, em direção ao centro da vila. Poucos metros adiante, era ali que o meu avô, descendente do “taxista”, anos depois ancorava a sua canoa de pesca, com a qual “alimentou” os seus muitos filhos. Não tendo tido a oportunidade de o conhecer, sei que era ali, onde atualmente existe o espaçoso Porto de Recreio da Calheta, que a poita presa à boia com o seu nome, o esperava diariamente no regresso da pescaria de subsistência.
A acompanhar, cresce um dos seus filhos que melhor conheço, curiosamente o meu querido pai, quem, no pequeno cais surgido anos depois, ainda mais próximo do centro da vila, em fugidinhas constantes, viveu momentos de infância únicos que em histórias relatadas diariamente, permanecem tão recentes.
Correndo no tempo, os seus herdeiros (nos quais me incluo), adotados por esta vila no final do século 20, veem o surgir e o desaparecer de uma praia de areia escura durante o verão, veem um cais crescer e ganhar dobra, veem um hotel a ganhar volume e ainda uma nova praia se tornar piscina.
Nesta praia, onde as lapas e os caramujos eram companhia assídua, lembro-me de assistir, ao longo de vários anos, aconchegados pelas limitações do espaço, a espetáculos sublimes em palco “suspenso” sobre a água.
Tempos depois e continuando a caminhada, a praia de areia escura ganha nova coloração, assim como outro encanto e espaço com a fantástica praia de areia dourada ali criada. Muitos foram e são os meus momentos de diversão plena e lazer nos dias fabulosos de praia, nos dias de convívios e caminhadas familiares e nos dias de festas grandiosas, como é o caso da tão presente festa do concelho, que arrasta sempre multidões. Ainda o cheiro a tinta fresca se fazia sentir e a euforia já marcava presença por cá!
Hoje, e no outro extremo da reta da vila, a praça antiga que entretanto surgira (onde se comemoravam as humildes e apertadas festas concelhias) dá lugar à renovada Praceta 24 de Junho; a dificuldade de estacionamento dá lugar a espaçoso parque e os baloiços antigos dão lugar a porto de abrigo onde a nau, em género de parque infantil, encalhou para proporcionar aos meus sobrinhos, “navegações” prolongadas convertidas em momentos únicos de brincadeira.
Está visto que a geração continua e o desenvolvimento não para!
E agora, que venha finalmente a época balnear… Eu gosto é do verão!