Ricardo Faria
Ricardo Faria
As comemorações dos 600 anos da descoberta da Madeira e do Porto Santo iniciaram-se em Lisboa, mais precisamente no dia 15 de Novembro de 2017, com a abertura da exposição ‘As Ilhas de Ouro Branco’, patente no Museu Nacional de Arte Antiga.
Esta exposição é dedicada ao impacto da cultura do açúcar na região nos séculos XV e XVI. Segundo Alberto Vieira, do Centro de Estudos de História do Atlântico, “a cana-de-açúcar está indissociavelmente ligada à afirmação do espaço atlântico a partir do século XV.
A rota do açúcar, na transmigração, do Mediterrâneo para o Atlântico, tem na Madeira a sua principal escala. Foi na ilha que a planta se adaptou ao novo ecossistema e deu mostras de elevada qualidade e rentabilidade”. Alberto Vieira afirma ainda que “ a Madeira manteve uma posição relevante, por ter sido a primeira do espaço atlântico a receber a nova cultura.
E por isso mesmo foi aqui que se definiram os primeiros contornos desta realidade, que teve plena afirmação nas Antilhas e Brasil”. Podemos compreender assim que o açúcar foi um grande impulsionador da economia da ilha após a sua descoberta, daí a sua importância.
De acordo com Conçeição Antunes, jornalista do Expresso, “a história da descoberta da Madeira e do Porto Santo começa quando o Infante D. Henrique junta alguns dos seus navegadores definindo uma missão, a qual tinha como objectivo conhecer melhor a costa oeste africana após a conquista de Ceuta. Assim João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira chegaram de barca a uma pequena ilha em 1418, escapando ao mau tempo, acabando por lhe dar o nome de Porto Santo. Um ano depois desembarcaram na baía de Machico e iniciaram a exploração da ilha, a que chamaram “Madeira” devido à abundância das árvores”.
Contudo outros defendem que este foi mais um “reconhecimento” do que um “descobrimento”, uma vez que a ilha já constava de mapas e cartas de navegação do séc. XIV. Por outro lado existe a história romantizada de Machim (inglês) e Ana d`Arfet (francesa) designada Lenda de Machim, os amantes onde as famílias não concordavam com o romance, decidiram fugir num barco à vela e uma tempestade os levou a encontrar uma ilha, Madeira, e uma praia, Machico, muito antes de lá chegarem Zarco e Tristão Vaz. A história romântica continua e tem o seu fim após a morte de Ana d`Arfet, na qual Machim ao sepultá-la ergueu uma cruz com a inscrição onde gravou o nome dela com quaisquer dizeres e por baixo o seu nome, Machim.
As comemorações dos 600 anos do descobrimento do Arquipélago vão estender-se, segundo o Governo Regional da Madeira até 2020. O objectivo destas festividades, de acordo com o anterior Secretário Regional da Economia, Turismo e Cultura, Eduardo Jesus, é “dar a conhecer a Madeira ao Mundo”.
A descoberta da Ilha da Madeira, como sabemos, iniciou-se na bela Freguesia de Machico, supondo-se que a 2 de Julho de 1419 aconteceu o desembarque dos descobridores. Foi a partir do seu belo vale que se deu início à exploração da Ilha.
Segundo informação colocada no site da Junta de Freguesia de Machico, “a 8 de Maio de 1440 o Infante D. Henrique doa a Tristão Vaz e seus descendentes a Capitania de Machico, que ia desde a Ponta da Oliveira, no Caniço, até à Ponta de São Lourenço e desta até à Ponta do Tristão, no Porto Moniz.
Machico torna-se, assim, a primeira sede de capitania do arquipélago da Madeira. No século XV, aproveitando o recurso abundante de água e o excelente clima, por toda a capitania desenvolve-se a produção de cana-de-açúcar”. De acordo com o cónego da Sé Jerónimo Dias Leite, “(…) o primeiro açúcar que se vendeu nesta ilha da Madeira foi na vila de Machico donde se começou a fazer e a recolher treze arrobas dele que se vendeu cada arroba a cinco cruzados (…)”.
Machico é assim um marco fundamental na história da Ilha da Madeira, a qual não poderá ser descartada. A sua riqueza histórica no contexto do descobrimento da Ilha da Madeira terá obrigatoriamente de merecer destaque nas comemorações, sob pena de não sermos fiéis reprodutores da história da sua descoberta ou redescoberta.
Contemplar no calendário das celebrações quatro eventos importantes para a freguesia e para a região, não me parece descabido. Potenciar o Mercado Quinhentista, estender a celebração do dia da Região ao dia da Freguesia, promover os inigualáveis fachos da Festa do Senhor bem como a festa religiosa do Senhor do Milagres, parece-me que seria uma boa homenagem à população de Machico. A par disso deixar criado um roteiro temático sobre a história da freguesia seria um complemento para o futuro da mesma.
Este deverá ser um momento de afirmação de Machico. Um momento para dar a conhecer também Machico ao Mundo, aproveitando assim também para impulsionar a sua economia, através do turismo. Um momento sobretudo para homenagear a sua população, pela importância que teve no desenvolvimento da Ilha da Madeira ao longo dos séculos.
Decidi reflectir sobre o tema, com a distância necessária em termos temporais, isto para que ninguém se esqueça do legado histórico da freguesia, de modo a colocar Machico no lugar de destaque que merece e com isso dar a conhecer um local tão importante para a Madeira como para todo o País. Cabe assim à Comissão Organizadora dos 600 anos, bem como às entidades locais, fazer com que este seja um marco na história do arquipélago transmitindo a sua identidade às gerações vindouras.