Ricardo Catanho
Ricardo Catanho
A frase escolhida para título é muito conhecida e bastante utilizada, apesar de a ter escolhido para este artigo é daquelas frases feitas que não me seduz particularmente sobretudo pela conotação brejeira e populista que a mesma me lembra mas no entanto resume em muito aquilo que vai na alma da maioria das pessoas neste mês…
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Agosto é dos meses mais esperados do ano e São Vicente não é exceção, é este o mês das férias, da praia, das festas e em muitos casos um mês de reunião das famílias que por motivos diversos encontram-se separadas e espalhadas um pouco por todo o mundo e é verdadeiramente neste mês onde aqueles que têm disponibilidade gostam de voltar a sua terra, embora o Natal e as visitas do divino Espirito Santo também faça com que aumente o desejo de cá vir, é em Agosto que nas ruas vemos mais amigos e conhecidos que já não vemos á algum tempo, todos estão felizes, os que cá estão e os outros que cá vêm, não deve haver uma família em São Vicente que não tenha algum familiar no “estrangeiro” a minha não é exceção e sinto as emoções todas que atrás descrevi nesses reencontros anuais.
Lembro-me bem quando em criança se falava muito dos “miras” e neste mês era frequente nossos conterrâneos serem apelidados de “miras” não de uma perspetiva pejorativa nem xenófoba mas numa forma carinhosa e fácil de os identificar, para os reconhecer era muito simples, bastava ver os sinais exteriores de riqueza ostentados pela maioria e a expressão que os celebrizou “mira, mira”…
Hoje ainda continua assim, embora com algumas diferenças e adaptações aos novos tempos este é o mês dos nossos emigrantes…
Este fenómeno que não é novo, é uma oportunidade imensa de enriquecimento cultural que devemos continuar a aproveitar, mais do que as divisas em dinheiro que entram na nossa região pela via da emigração. Muito da nossa freguesia foi construído devido ao espírito de esforço e capacidade de adaptação destes nossos conterrâneos que em terras desconhecidas e distantes trabalham arduamente para depois demonstrarem o seu amor á terra através dos investimentos nas diferentes áreas, todos nós que por enquanto ainda cá estamos devemos como que um sentimento de gratidão perante aqueles que sacrificaram grande parte da sua vida emocional na procura de um mundo melhor, ter outro tipo de condições de vida que a sua terra infelizmente não podia e por enquanto continua a não poder oferecer e é legitimo que cada ser humano anseie por uma vida melhor, aconselho a leitura de uma nossa ilustre conterrânea, Ana Cristina Pereira que versa sobre esta temática no seu excelente trabalho “ Movimento Perpétuo”.
Mas aquilo que é comum em todos os emigrantes estejam eles lá onde estiverem é também dito pelo poeta e escritor de origem madeirense John dos Passos que resume bem esse sentimento que me parece não se encontrar dentro da palavra também essa comum aos que partem e aos que cá ficam – Saudade, mas John dos Passos disse que “Podem arrancar um homem do seu país mas não o país do coração desse homem”. Esta é uma grande verdade, todos nós desenvolvemos uma paixão, um amor ao nosso país, á nossa região, a nossa aldeia de uma forma quase inexplicável.
Só quem já esteve fora algum tempo sabe verdadeiramente daquilo que estou a falar.
É por estas razões e muitas outras que devemos saber receber, estar disponíveis para uma eventualidade de poder ajudar e nestes últimos tempos estamos a assistir um novo fenómeno em São Vicente que poderá ser aproveitado como uma oportunidade que nos “caiu do Céu” neste caso da Venezuela que é a onda de Imigrantes que estão cá a chegar, não vejo outra forma mais rápida de combater a desertificação alarmante que São Vicente está a sofrer se não criarmos condições para receber estes nossos irmãos que por agora também estão a precisar de nós….
Irei escrever sobre este tema de forma mais aprofundada em artigo futuro, porque a imigração sobretudo venezuelana merece outro tipo de atenção da nossa parte, para além do combate à desertificação, poderemos a continuar a nos enriquecer cultural e socialmente devido a troca de experiências e a mescla de culturas.